Mulher motorista de ônibus é discriminada

Por Júlia Veras

Ela aprendeu a dirigir aos 15 anos, com uma ajudinha de um ex-namorado. O amor pela direção somou-se à perda do emprego de secretária em um banco, e para ganhar a vida, ela resolveu ser motorista de ônibus. “Eu sempre tive muita vontade de dirigir veículos grandes, o que muita gente achava estranho. Como o pagamento era razoável, resolvi tentar. No entanto, senti muito preconceito dos empregadores, até achar uma empresa que apostou em mim”, conta Jucilene Bezerra de Sá, 43 anos. Durante os 13 anos em que ela trabalha na empresa Pedrosa, já foi personagens de várias reportagens, como um exemplo de mulher que superou preconceitos para exercer a função que escolheu. No entanto, nesta semana, ela foi obrigada a registrar um Boletim de Ocorrência, de número 11E0095006910 contra um motorista de outra empresa. Dentre as queixas, trancas sem motivos no trânsito, xingamentos, gestos obscenos e até mesmo tentativa de agressão física - que foi impedida de acontecer pelos colegas de trabalho.

Jucilene contou que os problemas com o motorista vinham acontecendo há alguns meses. “Quando ele me encontra nas ruas, sempre passava na minha frente, nunca admitia ficar atrás ou ao lado. Então, vinha todo o caminho me trancando. Muitas vezes acontecia dessa situação perdurar por todo percurso feito na avenida Norte, por exemplo, tudo isso sempre acompanhado de xingamentos e gestos obscenos. Na segunda-feira da semana passada, tudo isso se repetiu e fiz uma reclamação ao fiscal da Globo, que se prontificou a conversar com ele”. No entanto, a situação estava longe de ser resolvida. Na quarta-feira, o motorista não só repetiu o comportamento agressivo, como foi ainda mais longe.

“Eu cheguei para trabalhar no Terminal Integrado da Macaxeira às 4h35. Estava na segunda viagem do dia, nas proximidades da Encruzilhada (Zona Norte do Recife), quando ele me trancou de forma tão brusca que a cobradora chegou a gritar, e por pouco, não bati. Nesse dia, quase passei mal, porque o meu medo era que acontecesse algo não só comigo, mas com os passageiros. Quando chegamos na Integração, fui novamente falar com o fiscal da empresa, que perguntou a ele se tudo aquilo era verdade. Ele me xingou na frente de todo o mundo e eu respondi. Nesse momento, ele tentou me dar um soco, e só não me acertou porque os colegas o seguraram”, relatou Jucilene.

O caso foi relatado também ao fiscal do Grande Recife Consórcio de Transporte, que teria recomendado que o profissional fosse mudado de local de trabalho. No entanto, até agora, nada aconteceu. “Ele sequer foi mudado de horário e voltou ainda a fazer esse tipo de coisa. Tenho uma amiga motorista que também sofria o mesmo tipo de perseguição. Agora, além de ter feito a queixa, resolvi que vou entrar na justiça contra ele e contra a empresa, que não tomou satisfação a respeito do caso. Eu, que nunca tive nenhuma batida ou multa no meu histórico, vivo em pânico, com medo que alguma coisa aconteça comigo”, lamentou Jucilene.

O Grande Recife afirmou que a sua função é fiscalizar a operação de uma forma geral. A má conduta dos operadores, no caso, do motorista, deve ser punida pela empresa. A empresa Globo de transportes, na qual mo motorista trabalha, informou que embora não tenha tomado conhecimento formalmente do ocorrido,o caso foi conversado com o motorista. Na ocasião, ele teria prometido se retratar e a empresa acreditou que a ocorrência seria pontual. 

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