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"NÃO VAI DAR CERTO"


Anote o que vou dizer: não vai dar certo. Se der, pode me passar na cara. Agora, se não der, aguardo o reconhecimento: “bem que você disse.”

João Baptista Figueiredo, o último general-presidente da ditadura militar, pediu pra gente esquecê-lo. E a gente esqueceu. Mas vou lembrá-lo aqui rapidinho e depois a gente esquece ele de novo.

O general era mais grosso do que papel de embrulhar prego. Aí, apareceu um camarada, misto quente de publicitário e jornalista (nessa época eles ainda não tinham se autoapelidado de marqueteiros), chamado Said Farhat, que ficou de dar um polimento na casca do general, antes de ele assumir a presidência.

A primeira coisa que Farhat fez foi recomendar ao general não usar mais óculos escuros (os generais-ditadores latino-americanos eram chegados nuns óculos escuros, com ou sem sol). A segunda, que a imprensa não deveria mais chamá-lo de general, nem de Figueiredo.

Agora, era João. Simplesmente João. O João fez isso, o João fez aquilo, o João disse aquilo outro, na maior intimidade. Até o dia em que uma jornalista fez uma pergunta ao João no momento em que ele entrava no carro. Para ouvir a resposta, a moça tentou segurar a porta. E o João, pra não responder, tentou fechá-la. E ficou nisso. A moça segurando e o João puxando. Pronto. A merda tava feita. O João arretou-se. Saiu do carro com a gota serena e sobrou desaforo pra todo mundo. Daí em diante, ninguém segurou mais o general. Era coice pra todo lado: “Prefiro cheiro de cavalo a cheiro de povo”.

Marqueteiro que se preza é, sobretudo, marqueteiro dele mesmo. Se o freguês ganhar a eleição, foi ele quem ganhou; se perder, foi porque a anta não fez o que ele mandou. A gente só não entende por que o marqueteiro não elege logo ele próprio presidente. Não é, certamente, porque presidente ganha menos, né? Ele lá, na boca do cofre, encurtaria caminho e o negócio ficaria sem intermediários.

Pois bem, inventaram que o Lula que foi eleito presidente, o Lulinha Paz e Amor, foi fabricado por um marqueteiro. O outro, o metalúrgico radical e intolerante das eleições anteriores, era coisa de amador. Ora, ora, meu senhor, intolerante e radical era a ditadura, não o Lula. Lula, como líder sindical, era um reconhecido negociador. Acostumado a engolir sapo, tolerar e transigir (pergunta ao pessoal da Fiesp). Na eleição de 2002, não era Lula que era outro, não; o momento é que era outro. E Lula foi o melhor leitor daquele momento. Inclusive, porque chamou um marqueteiro para dizer isso bem dito.

Conheci Lula na casa do escritor Maximiano Campos, na Rua Visconde de Irajá, na Torre, quando Arraes voltou do exílio em 1979. Na intimidade, já era Lulinha Paz e Amor. De cócoras, contando e ouvindo histórias, tomando uma cachacinha e rindo à vontade. Mas uma coisa era estar ali, de cócoras entre amigos; outra, muito diferente, seria pegar cadeia, levar porrada de milico e depois sair por aí numa de paz e amor. Não dava, né? Quem gosta de apanhar é mulher de malandro, compadre.

Marqueteiros de verdade, comerciais, fazem pesquisas antes de lançarem os produtos, para tentar antecipar as percepções do mercado em relação aos seus pontos fortes e pontos fracos. Aí, se for o caso, propõem desde simples ajustes até mudanças radicais em sua natureza: nome, embalagem, formato, dimensão, sabor, cor, consistência, preço etc. Mas com gente é diferente, como diria Geraldo Vandré. Uma coisa é dar uma repaginada, trocar os óculos, a roupa e o corte de cabelo, sem exageros; outra, muito diferente, é achar que dá pra mexer na natureza, na essência das pessoas. Alguma dúvida de que, se isso fosse possível, nos Estados Unidos teriam trocado o nome de Barack Hussein Obama e mexido em outras naturezas da sua essência?

Aviso logo: não tenho nada com isso, não é minha candidata, nem nunca vi mais gorda. Mas dizem que já tem marqueteiro faturando para construir uma Dilma Roussef nova em folha: Dilminha Paz e Amor. Tiraram os óculos da moça, botaram lente de contato colorida, disseram o que ela deve vestir e agora estão treinando a coitada para dizer nos comícios: “Cumpanheiras e cumpanheiros, nunca antes na história desse país...”

Isso não vai dar certo!

Por Joca Souza Leão, Publicitário
Publicado no seu Blog Cronicas do Joca

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