ÀS COMPRAS


Comprar roupa. Putz, saco! Já acordo mal-humorado, pensando na loja cheia, no papo furado do vendedor e no calor do provador.

Quando uma mulher (não estou me referindo a nenhuma em particular) pensa em comprar roupa, já acorda feliz da vida. Imagina o tempo que vai passar nos provadores e nos elogios que vai ouvir das vendedoras: “Essa blusinha arrasou, foi feita pra você.”

No meu caso, normalmente quem dá o toque é minha filha Joana: “Pai, cê tá precisando comprar umas roupinhas, né? Quer que vá com você?” Como nunca dei muita bola pra essa coisa de roupa, só aí, com a preocupação dela, fico sabendo que a situação é grave, próxima à indigência. Acho que com boa parte dos homens é assim.

No caso das mulheres, ninguém precisa lembrar nada. As roupas tão lá, nas vitrines e prateleiras, esperando por elas. Conheço uma que, quando vai às compras, anuncia: “tô indo pra terapia.”

Maquiavel, maquiavelicamente, recomendou que se fizesse o bem aos poucos e o mal todo de uma vez. Uso a recomendação em causa própria. Compro tudo de uma tacada só, na mesma hora, no mesmo local (shopping ou rua), se possível na mesma loja. Este ano o dia fatal caiu na antevéspera da véspera de Natal. Eu não devo mesmo ter nada no juízo. O caos. Ia de manhã, adiei pra tarde, fui à noitinha. E é sempre assim: se a loja onde comprei no ano anterior funcionou, vou direto lá. Foi o caso. Fui direto.

As mulheres vão a várias lojas. Em cada uma, desmancham todas as araras e prateleiras. Sempre ficam na dúvida. Quando gostam da cor, o modelo não é exatamente aquele que tinham imaginado. Quando gostam da cor e do modelo, o tecido não caiu bem.

Sou, paradoxalmente, o pior e o melhor comprador. O pior porque, em se tratando de compras para todo o ano, o valor não é lá grande coisa. E também porque devo frustrar a vocação de vendedor do vendedor, que não consegue me empurrar nada além do que anunciei previamente que ia comprar. Mas sou, também, o melhor, porque o cara não perde tempo comigo. Procuro escolher produtos da mesma marca. Assim, só provo uma peça de cada, uma camisa, uma calça e por aí vai.

Pelas minhas idiossincrasias ou sei lá por que, devo ser também um comprador inesquecível. Foi só entrar na loja e o vendedor, o mesmo do ano passado, me reconheceu no ato. Mas, por segurança, repeti a ladainha: “Companheiro, eu vim comprar isso, aquilo e aquilo outro. Por favor, não me ofereça nada mais do que isso. Outra coisa, odeio provador. Por isso, só entro lá uma vez e rapidinho.”

Em vinte minutos, no máximo, eu estava saindo da loja com três sacolas cheias e a nota para pegar as calças com as pernas encurtadas no dia seguinte. E o vendedor não ficou lá dobrando nenhuma camisa. As únicas desdobradas foram as que escolhi e comprei.

Ano que vem tem mais. “Pai, cê tá precisando comprar umas roupinhas.”

Por Joca Souza Leão, Publicitário
Publicado em seu blog "
Crônicas do Joca"

Postar um comentário

Comente esta matéria

Postagem Anterior Próxima Postagem