Enquanto o torcedor mima Kleber, o mais novo candidato a ídolo do Grêmio, um herói da história recente do clube circula quase que anônimo pelos corredores do Olímpico. Sem time desde julho, Galatto aprimora a forma física há pelo menos um mês na casa que o acolheu ainda garoto. Um dos protagonistas da Batalha dos Aflitos, que completou seis anos no sábado, vive sob o peso do futuro incerto, mas aposta na mesma receita que usou para defender o pênalti de Adhemar, em 2005: tranquilidade. Afinal, o apelido de "Ice Man", dado pelo presidente Paulo Odone, não é por acaso.
A reclusão é uma estratégia de Galatto. O goleiro estaciona sua Palio Weekend cor de chumbo todos os dias, de segunda a sexta, no pátio do Olímpico depois de 30 minutos de viagem desde Cachoeirinha, cidade da Região Metropolitana. Discreto, opta sempre pelo turno inverso ao dos treinamentos do grupo profissional do Grêmio.
- Não sou muito político nem gosto de ficar me expondo. Decidi ficar um pouco fora para acalmar as notícias que estavam saindo sobre mim - justificou.
Galatto se refere à curta passagem pelo Neuchâtel Xamax, da Suíça, em julho. Com dois dias de clube e sem treinar com bola havia 40 dias, foi intimado pelo presidente, o russo Andrei Rudakov, a jogar. Do impasse, restou a saída instantânea do jogador. Ainda entrou em campo, mas por solidariedade ao técnico brasileiro Sonny Anderson, ex-ídolo do Lyon, que não tinha goleiros à disposição.
Desde então, Galatto não farda. Voltou ao Brasil, tirou um mês de férias e, com a janela de transferências fechada, encontrou no Olímpico a chance para aos poucos retomar a carreira. Aliás, abandonar os gramados nunca esteve nos seus planos.
- Não posso parar, não posso me precipitar. Tenho 28 anos, pretendo jogar mais um cinco ou seis anos. Se for levado pela emoção, você se perde. Tem que ter tranquilidade. Ainda estou na luta - argumentou, lembrando que, em 2005, era o quarto goleiro no início da Série B.
Saudade da bola, não do frio
É quando fala da bola rolando que Galatto se desprende da fama de Homem de Gelo, se empolga, não vê a hora de voltar a jogar. Sente falta da rotina, de estudar o comportamento dos atacantes adversários. Até estranha ter folga nos fins de semana. Ainda não recebeu propostas oficiais, mas revela pelo menos quatro sondagens de clubes nacionais. Ouviu também ofertas estrangeiras, mas as rechaçou. Já treinou com neve até a canela na Bulgária em 2010 e espera não repetir a experiência.