Paciente na internet, navegação em mar bravio. Todo mundo já usou o Google para pesquisar algo. Da origem da expressão “ficar a ver navios” ao telefone do restaurante da sexta-feira, está tudo lá, rápido e fácil. Também estão disponíveis informações, em quantidade assombrosa, sobre as mais variadas doenças, exames e tratamentos médicos.
A riqueza das imagens e a qualidade de alguns vídeos fazem com que os velhos livros médicos em que estudei pareçam pergaminhos desajeitados e sem graça. É o conhecimendo médico, duramente acumulado ao longo de milênios, condensado e disponível a todos, certo? Errado, em minha opinião. O fato de ser capaz de ler um texto médico, buscando no dicionário o significado de termos técnicos e entendendo o sentido de algumas frases, não torna ninguém capaz de interpretar com propriedade a essência da mensagem.
Já vi muitas pessoas sofrerem bastante por se anteciparem à consulta médica, deparando-se com informações assustadoras na internet sobre doenças que supõem ter. Também vivenciei dificuldades com pacientes que recusaram tratamentos sabidamente úteis ao seu problema, por terem lido na web sobre efeitos colaterais ou contraindicações. Anos de treinamento são necessários para que se consiga compreender, de verdade, um texto médico. Mesmo entre profissionais há diferenças.
Um médico experiente tem condições de extrair mensagens implícitas que passam despercebidas a um profissional mais jovem. As informações contidas naquele texto devem ser confrontadas com muitas outras, contidas em outras publicações, e sedimentadas na mente do médico ao longo de décadas de leitura e de experiência prática com a doença em questão. Sei como me sinto desconfortável ao ler um texto jurídico. Minha sensação é de que entendo o português das frases, mas não consigo conectá-las em uma lógica que me satisfaça.
Por isso, jamais assino um contrato importante sem mostrá-lo antes ao meu advogado. Não se trata de reserva de mercado, ou de querer restringir o conhecimento à “máfia de branco”, como alguns paranoicos poderiam pensar. Há sites confiáveis direcionados ao leigo, elaborados por entidades médicas responsáveis, onde a linguagem é acessível e há equilíbrio na explicação dos fatos e estatísticas. Até para ler sobre a sua doença, consulte o seu médico.
* Alfredo Leite é médico pneumologista