''O Pina é a Zona Norte da Zona Sul''

Por Manuella Antunes

"O Pina é a Zona Norte da Zona Sul.” É assim, sem arrodeios, que o produtor cultural Paulo Braz, 58 anos, apresenta o bairro onde vive há quase uma década. É ele quem conduz o JC por mais um passeio da série Lá onde eu moro. “Sabe o que é? Aqui eu faço tudo a pé. Vou na padaria, frequento restaurantes, pego minha praia e nem sofro tanto com o trânsito”, conta.

Paulo, que mora em um edifício na Avenida Boa Viagem, não pode reclamar da vista. Jangadas, coqueiros e um marzão. A vizinhança dele também é formosa. Constituída em sua grande parte por casas, carrega traços da arquitetura dos anos 50. A verdade é que, para onde quer que se vire, ele está cercado de charme.

Legenda

E é lá da varanda do seu apê que mostra o que considera uma das grandes vantagens do bairro. “Tá vendo ali?”, aponta. “A faixa de areia é larga, muito maior que em Boa Viagem. Há mais de 20 anos tenho uma confraria de amigos aqui bem perto, na Barraca de Beto, fica quase em frente onde é, hoje, o bar Avenida do Chopp, outro lugar legal do bairro.”

Quando o passeio começa, a reportagem vai até a beira do mar, onde alguns pescadores ainda estão organizando as jangadas. Saíram da água há pouco. “Aqui a gente pode até comprar peixe fresquinho, é só saber a hora que o pessoal volta do mar.”

HISTÓRIA

O hábito de Paulo remonta às origens do bairro do Pina, que recebeu esse nome devido ao antigo proprietário da localidade, o Capitão André Gomes Pina, segundo narra o escritor Carlos Bezerra Cavalcanti no seu livro O Recife e seus bairros. A propriedade correspondia a uma ilha que, com outra ilha chamada Do Nogueira, constituiu o que hoje é o Pina, ligado à Zona Norte pelas Pontes Agamenon Magalhães e Paulo Guerra – nomes de dois governadores do Estado.

Ainda de acordo com a publicação, até o início do século passado, o acesso era feito, exclusivamente, de barco. Foi somente em 1915 que a primeira via foi construída e improvisada como ponte. Isso porque a construção, propriamente dita, fez parte do projeto que construiu a Avenida Boa Viagem algum tempo depois.

“Antigo bairro de gente que vivia do mar, tiradores de coco e marisqueiros, lugar que já abrigou colônia de pescadores, atualmente localizada em Brasília Teimosa”, escreve Carlos na publicação.

Hoje, apesar dos resistentes pescadores que ainda tiram seu sustento das águas que banham o bairro, o Pina cresceu. Perdeu a característica de colônia. Segundo dados do Censo 2010 do IBGE, o número total de residentes do bairro é de 29.176 pessoas.

E, como não poderia deixar de ser, o Pina seguiu a ascensão de outras localidades. A modernização e a especulação imobiliária, antes focadas mais em Boa Viagem, também chegaram por lá. O surgimento de novos empreendimentos, a exemplo de empresariais, centros médicos, restaurantes, hotéis de luxo e – a partir de 30 de outubro –, o shopping Rio Mar, valorizaram a área. “Tenho certeza de que, meu imóvel, por exemplo, duplicou o valor”, comenta Paulo.

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