A cada Natal, Fortaleza serve de morada temporária para um animado grupo de papais noéis vindos de várias partes do país e até da Itália. Este ano, os oito alugaram um andar inteiro em um prédio no Bairro Papicu, onde preparam-se para, em média, 10 horas diárias de conversas, fotos e “ho ho hos” em shoppings, escolas e residências. Na república dos bons velhinhos, a mamãe noel é a empregada doméstica Maria Celsa, as bermudas substituem a roupa quente de lã e a geladeira é cheia. “E ainda desconfiam que nossa barriga não é natural”, brinca o italiano Benedetto Sanfilippo, 68 anos, o mais velho do grupo.
Segundo o empresário do grupo, Marcos Teles, a maratona de trabalho dura cerca de 60 dias. “Geralmente, começamos em outubro e vamos até, no máximo, dia 25 de dezembro”, afirma. Teles explica também que os oito papais noéis passaram por uma seleção rigorosa para integrar a agência: “O que pesa mais é o carinho deles com as crianças. Depois, analisamos a semelhança do porte físico com a imagem do personagem clássico”.
Descoberto na rua
O cuidado em manter a aparência do personagem inclui o uso de cremes na barba e uma dieta “rica em gorduras”, segundo o empresário. A barriga é natural, diz Sanfilippo, que raramente é visto longe da escova que usa para alisar os cabelos dele, e quando quer fazer graça, até os dos colegas. Os oito dizem que a empregada doméstica Maria Celsa é a Mamãe Noel. Ela trabalha há seis anos preparando a alimentação e lavando as roupas do grupo. “São muito brincalhões. É bom demais trabalhar com eles. Me divirto muito”, afirma.
Calor e flashes de cegar
Para alguns, a vocação de papai noel começou dentro de casa. “Minha sobrinha sempre disse que eu era o 'titio noel' da família”, conta Garcia. Já Osvaldo é acostumado com o personagem desde criança, quando a mãe vestia a roupa vermelha e a barba postiça para entregar os presentes: “Levei essa tradição para os meus filhos e a gente sempre brincou no Natal”.
Na convivência, os papais noéis trocam relatos dos pedidos mais marcantes que recebem. “Entro no clima da criança e às vezes choro junto quando o pedido envolve resolução de conflitos familiares ou de saúde”, diz o mineiro Volali. Os aposentados não têm descanso nem na noite de Natal, quando são contratados por famílias para animar ceias particulares.