Família de estudante cobra Justiça

Por Wellington Silva

Além de transparecer uma profunda tristeza, o olhar distante da dona de casa Carmem Déa da Silva, 50, à primeira vista, evidencia alguém que anseia por respostas difíceis de serem encontradas. À medida que algumas lembranças de dois anos atrás surgem, ela revela o real motivo do seu abatimento, alimentado diariamente desde o dia 20 de agosto de 2009. Nesta data, a filha mais nova dela, a estudante universitária Danielle Suany da Silva, na época com 25 anos, foi encontrada morta no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Enquanto compartilha alguns dos últimos momentos da caçula, as mãos trêmulas e o choro inconsolável expõem sua revolta pelo fato de as investigações do caso de Danielle ainda não terem sido concluídas.

Ao passo que conta algumas recordações, Carmem parece recuperar o foco e voltar à triste realidade de viver atualmente sem uma de suas filhas. Sem conseguir conter às lágrimas, ela expressa diversos sentimentos, como saudade e indignação, ao dizer que uma semana antes de morrer Danielle iria confessar algo para uma prima. “Mas, como estava comemorando seu aniversário, Elaine pediu para ter essa conversar em outro momento”, contou a dona de casa. Nesse mesmo dia, Carmem disse ter visto uma mancha roxa na coxa direita de sua filha, fato que disse ter achado estranho. “Ela (Danielle) me disse que teria sido causada por alguma raiva que teve, mas desconfio que tenha sido outra coisa”, acrescentou.

Outro fato curioso contado por Carmem foi o sonho que Danielle lhe contou um dia antes do seu suposto suicídio. “Tinha acabado de voltar do mercado quando ela deitou no sofá e perguntou quanto tempo fazia que minha mãe havia morrido. Após responder, perguntei o por que da pergunta e ela disse que havia sonhado com a avó”, contou. No sonho, Danielle, conta Carmem, entrava vestida de noiva em uma igreja, mas apenas a sua avó estava presente no local. “Quando ela foi ver o significado do sonho em um livro que eu tinha tomou um susto e o fechou rapidamente, me contando que aquilo significava uma desgraça”, completou, acrescentando que mandou Danielle confiar em Deus.

No dia seguinte, a estudante foi encontrada morta com um tiro na testa, no apartamento do então namorado, o analista de sistemas Marcelo Telles Silveira. O disparo que atingiu Danielle partiu de uma pistola de Marcelo, que tinha o porte de armas. No entanto, não foram encontrados nas mãos dos dois resíduos de pólvora pelos peritos. A versão dada pelo rapaz foi que Danielle teria cometido suicídio, mas Carmem diz que a filha não tinha motivos para isso. “Minha filha era uma pessoa feliz, de bem com a vida. Já o Marcelo, apesar de eu não o ter conhecido enquanto namorava com Danielle, ouvi relatos de que ele era uma pessoa agressiva. Por isso, acredito que ele a tenha matado”, desabafou.

Carmem acrescentou que sua filha mais velha e irmã da vítima, Lorraina Patrícia da Silva, saiu uma noite com o casal o achou ciumento e agressivo. “Durante os três meses em que passaram juntos eu percebi que ela esteve mais triste, inclusive, emagreceu. Sabia que tinha algo de errado com ela. Hoje, não tem um dia que eu não lembre da minha caçula. Só quero que a justiça seja feita. Isso não pode passar impune”, desabafou Carmem.

Atualmente, Marcelo mora no Rio Grande do Sul e sempre que precisa prestar esclarecimentos é ouvido através de carta precatória pela Justiça gaúcha, que encaminha o depoimento para Pernambuco. No próximo dia 20 a morte de Danielle completa dois anos. Nesse período, duas audiências de instrução foram realizadas para colher informações de testemunhas de defesa e acusação, entre elas amigos, parentes e conhecidos de Danielle e Marcelo, mas o caso ainda não foi concluído. Hoje, às 14h, haverá a terceira audiência no Fórum Rodolfo Aureliano. 

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