Nada de novo em debate mais sonolento da história

Do Blog de Jamildo
Postagem Gabriel Diniz


O último debate entre os candidatos a presidente antes das eleições neste domingo foi muito morno e sonolento até mesmo para quem teve obrigação profissional de acompanhar o programa.

Quem estava cobrando a apresentação de propostas nos debates, recebeu uma chuva delas. O que não se sabe é o quanto elas são exequíveis ou apenas conversa para boi (indeciso) dormir.

A candidata governista, por exemplo, manifestou o desejo de que o Brasil tivesse a meta de zerar o déficit de saneamento, que ela chamou de vergonhoso. O custo estimado seria R$ 45 bilhões. Sem dizer de onde vem o dinheiro e em que horizonte, não se sabe se dá mesmo para sair do papel. O Recife e suas favelas são um exemplo de como apenas voluntarismo não resolve.

O embate de idéias políticas praticamente desapareceu, diante do receio, maior, de que críticas diretas aos adversários ampliassem a rejeição, na véspera do pleito.

Isto ajuda a entender a razão dos candidatos terem dado uma folga a dona Erenice e o tal Paulo Preto.

Não que isto tenha impedido que um e outro tenha lançado farpas. Logo no primeiro bloco, um eleitor do Distrito Federal apresentou um questionamento sobre corrupção e o que fazer para mudar. Serra disse que iria reforçar os órgãos de controle e não o contrário, como tem acontecido, numa alusão a Lula, que atacou o Tribunal de Contas da União por investigar irregularidades em obras. Também disse que não se devia inibir a imprensa, que Lula destrata dia sim e outro também, quando não lhe bajula o ego inflado. “Não se pode passar a mão na cabeça”, criticou, numa referência aos escândalos da Casa Civil e outros.

Já Dilma aproveitou uma pergunta sobre educação, no segundo bloco, para dar sua primeira estocada mais forte no adversário. Serra havia dito que iria propor um pacto nacional pela educação e, no meio da resposta, reclamou de sindicatos que são meros instrumentos partidários, numa referência aos professores ligados à CUT em São Paulo. “Não se pode ter uma relação de atrito com os professores, recebê-los de cacetete. Temos é que pagar um salário digno aos professores”, defendeu.

Os dois voltaram a trocar farpas ao falar de impostos, no último bloco. Serra havia reclamado que o Brasil já tinha arrecadado mais de um trilhão de reais em impostos, 50 dias antes do que no ano passado, além de ter prometido aliviar impostos na área de saúde. Dilma respondeu que o recorde estava ligado ao crescimento econômico vigoroso, a taxas chinesas.

Na última pergunta, feita por um pernambucano, sobre previdência, Serra voltou a reclamar que o Brasil não poderia ter um vôo de galinha e foi rebatido, automaticamente, por Dilma. “Não é vôo de galinha e vem desde 2003”, afirmou, sem citar Lula, como fez na maior parte do programa, possivelmente com o objetivo de mostrar-se independente, que pensa com a própria cabeça e não será uma pessoa manietada, caso assuma o poder.

O formato com perguntas diretas dos eleitores não deixou de ser interessante, no entanto, em um aspecto: obrigou a candidata oficial a ouvir e confrontar-se com críticas concretas, nas áreas de segurança, saúde e educação, em vez de apenas repetir a decoreba sobre os resultados do governo Lula.

O momento mais eletrizante, entretanto, ocorreu no terceiro bloco, em função de um problema em um dos relógios que contava o tempo para resposta dos candidatos. Houve uma falha e Dilma continuou falando. Advertida pelo mediador, ela foi ríspida. “Pois é, complicou”. “A senhora driblou o relógio”, brincou Bonner, antes de assumir a culpa, em nome da produção. “A culpa foi do relógio”, respondeu a candidata, como que reconhecendo a grossura, desnecessária.

É verdade também que Serra fala bem melhor, é mais eloquente, enquanto Dilma tem dificuldade enorme de expressar em palavras o que pensa. Em alguns momentos, chegou a gaguejar, enrolas as palavras. Dilma também deixou de concluir várias respostas por não conseguir fechar um raciocínio claro. O quanto isto vale mais votos para um ou para outro não se sabe ainda.

Nas considerações finais, Dilma ainda ensaiou o papel de vítima, reclamando de um conjunto de calúnias pela internet e panfletos. A campanha de desconstrução ocorre em todas as eleições, contra todos os candidatos. “Mas não guardo mágoa porque tenho leveza de alma”. Pelo menos não culpou o relógio.

Já Serra pareceu chorar ao se despedir. Mesmo assistindo o debate em uma TV HD, não deu para ter certeza se chorou de verdade. Ao menos não reiterou as propostas mais populistas, de 13º bolsa família e aumento imediato de aposentadorias no ano que vem.

Bem, foi o que eu vi de interessante. Como respeito quem tem visão diferente, a área de comentários abaixo está aberta a todos. Boa eleição para todos.


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