
Os maiores inimigos desse patrimônio são a umidade e a salinidade, que corroem e desgastam os azulejos. “A água sobe pela parede trazendo sais que, depois de secar, se cristalizam entre as peças e a parede. Isso causa deformidades nos azulejos e pode até fazê-los cair ou trincar”, explicou a restauradora Pérside Omena, que chefia cerca de 50 trabalhadores. A restauração, que é financiada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) começou pela igreja e pelo claustro do Convento da Ordem Terceira de São Francisco do Recife, que estão em piores condições.
O primeiro passo do trabalho é proteger os azulejos com papel e tecido, para que a cobertura vitrificada - camada externa onde foi aplicada a tinta dos desenhos - não largue da base. Depois cada pedaço é numerado e os painéis são destacados da argamassa. Os azulejos são, então, banhados em água destilada. “Fazemos esses banhos para retirar dos blocos a salinidade. Esse é um dos processos mais demorados, porque levamos cerca de 40 dias para cumprir todo o trabalho”, esclareceu Omena. Depois de secar, as peças são seladas a vácuo e congeladas por uma semana para matar os fungos.
A próxima etapa é a de reconstituição, onde é possível juntar os pedaços fraturados e devolver o formato quadrado aos azulejos. Resinas especiais são usadas para preencher os espaços vazios das peças, que no final podem até ser novamente pintadas. “Temos fotos da década de 30 que mostram como eram essas imagens contidas nos azulejos. Assim podemos pintar novamente os azulejos parcial ou totalmente perdidos e recompor a obra de arte”, destacou. Ela ainda garantiu que a recolocação dos blocos não vai ser feita diretamente na parede, mas sobre algum material que barre o contato com a umidade.
O diretor da Ordem Terceira de São Francisco do Recife, Roberto Vilela, relatou que a manutenção do patrimônio artístico é uma das preocupações da organização. “Temos uma equipe de manutenção para o telhado, a pintura e outras questões mais simples. Mas admito que só os especialistas podem cuidar de partes específicas, como os azulejos e as folhas de ouro do altar, por exemplo”, garantiu. Ainda segundo ele, as visitações ao museu que funciona nas dependências do convento e da Capela Dourada vão continuar normalmente. “É até bom que o turista veja que estamos restaurando o patrimônio, porque isso conscientiza sobre o cuidado que ele merece”, arrematou Vilela.
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Postado por Adriano Oliveira