O HAITI É AQUI!


Neste domingo (31), o repórter de Cidades do Jornal do Commercio João Valadares nos presenteia com um belo tapa na cara. Com imagens fantásticas registradas pelo repórter fotográfico Chico Porto, e com uma bela página dupla desenhada pela premiada designer Yana Parente, ele conta o drama de gente que vive aqui, na nossa frente, nos "Nossos Haitis".

Texto e imagens são chocantes. Nos fazem ficar com peso na consciência. Por que nos revoltamos com a miséria no Caribe e ficamos cegos para a desgraça que está do lado de fora da janela do nosso carro com ar condicionado, debaixo de nossa varanda e bem ao lado da pista onde fazemos cooper ou da quadra onde jogamos tênis? Por que nos mobilizamos tão fácil e rapidamente para ajudar sofredores, sim, mas a quilômetros de distância e não conseguimos sequer providenciar água e comida para os que morrem pouco a pouco aqui em frente?

Que a leitura desta reportagem não seja só para um rápido momento de indignação. Mas que sirva para que reflitamos e, mais que isso, hajamos, cobremos, façamos.

Você confere aqui o material produzido pela repórter Carly Falcão para o JC Online. Para conferir as comoventes imagens feitas por Chico Porto, basta clicar aqui. No blog você confere, logo abaixo, um trecho do texto de João Valadares. O trabalho completo está na edição de hoje do Jornal do Commercio.

Eleni Costa Souza é mulher de 40 anos. Mora na areia. Não levanta porque a força sumiu. Arrasta-se quando precisa de alguma coisa. Difícil mesmo é perceber sua existência. Pode chover ou fazer sol. Ela está lá, embrulhada, no mesmo lugar. Descascada de tudo, carrega um filho na barriga. Não sabe se é menino ou menina. Nunca foi ao hospital.

Acha que está grávida de nove meses e há oito dias não consegue comer. Não tem força para mastigar o que nem existe. Toma só água ou o caldo de osso de sempre, catado pelo marido nos restos de Brasília Teimosa. Nêga, a vira-lata, lambe a mesma sobra, mas desdenha da comida. É o desespero que não faz barulho bem embaixo do nosso nariz, ao lado das quadras de tênis da Avenida Boa Viagem.

Eleni é o nosso terremoto. Prova viva que aquele País devastado no Caribe não é visto apenas quando trocamos o canal da televisão. Está na vista da nossa varanda, na janela do carro, na esquina da gente, à espera do nosso lixo. Bem pertinho. Não sentimos, sequer percebemos. A terra por aqui nem chacoalhou, mas há sofrimento empilhado por todos os lados. Vida que já nem pode desabar. Só há chão no Haiti recifense. O reino do não. Dos que não comem, dos que não podem adoecer, dos que não recebem cartas porque não há endereço. Como lá, gente aqui virou entulho. Sobrevive por teimosia mesmo.

Por Daniel Guedes
Foto: Chico Porto

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