'Rio Doce-CDU' traz o público de volta ao Cine PE, em Olinda

Por Anna Tiago

A trégua da chuva e a expectativa pelo único longa-metragem pernambucano do 17º Cine PE – Festival do Audiovisual fez com que o Centro de Convenções, em Olinda, começasse a acomodar o público meia hora antes do horário previsto para o início das exibições. A quarta noite do evento conseguiu resgatar a característica de encher o Teatro Guararapes. O sucesso poderia levar o nome de duas produções: o curta “O Fim do Filme” e o longa “Rio Doce-CDU”.

Mesmo com o atraso de quase uma hora, o público estava paciente e se mostrou satisfeito, não economizando nos aplausos. A Mostra Competitiva de Curtas-metragens teve início com o documentário paulista “A Guerra dos Gibis”, dirigido por Thiago Mendonça e Rafael Terpins. Mesclando depoimentos de quadrinistas com personagens animados, a produção mostra o surgimento de quadrinhos eróticos no Brasil na década de 1960, em plena ditadura militar. O documentário traz à tona a questão da censura com pitadas de humor, conseguindo arrancar risos discretos da plateia.

Em seguida, foram exibidos os documentários “Três no Tri”, de Eduardo Souza Lima, e “À Luz do Dia”, de Joana Nin, ambos do Rio de Janeiro. O primeiro conta a história da foto esportiva mais publicada no mundo: a comemoração de Pelé depois de marcar um gol na Copa do México, em 1970. Já “À Luz do Dia” revela memórias de uma antiga casa desocupada. “Meu avô sempre fez filmagens. Um dia, encontrei as películas dentro de um saco e tentei recuperá-las. Muitas estão neste documentário”, explicou Joana Nin, diretora do filme.

Mas o destaque dos curtas-metragens foi “O Fim do Filme”, dirigido por André Dib. A única ficção da noite conta a história de um funcionário de uma videolocadora que tem o hábito de revelar o final dos filmes aos clientes até o dia em que é surpreendido por uma garota que aluga sempre o mesmo filme. Bem-humorada, a trama aborda a importância que as pessoas dão aos finais dos filmes e mostra como o cinema está presente no cotidiano. E essa aproximação com o dia a dia só poderia ter um resultado: gargalhadas, fortes aplausos e ovações do público.

O público que compareceu ao Cine PE nesta segunda-feira não fez questão de esconder que o longa-metragem pernambucano “Rio Doce-CDU”, dirigido por Adelina Pontual, era o principal motivo para prestigiar a quarta noite do evento. O nome do filme é o mesmo da linha de ônibus que liga o bairro de Rio Doce, em Olinda, à Cidade Universitária, no Recife.

A estudante Manuela Andrade estava ansiosa para ver o trajeto do famoso ônibus na telona. “É a primeira vez que venho ao Cine PE e só vim por causa dele. É o filme mais esperado do ano”, brincou. Erlan Fernandes, também estudante, estava curioso. “Pego o Rio Doce-CDU há três anos, são muitas histórias nesse ônibus. Quero ver nossa realidade”, comentou.

Até o ator José Barbosa, que interpretou Jesus na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, já foi fiel passageiro da linha e queria ver o resultado dessa produção. “É a minha primeira vez no Cine PE e espero ver muita coisa boa produzida aqui. Estou particularmente curioso com o Rio Doce-CDU, morava no Janga e já dependi muito dele”, disse.

Sob a trilha sonora de DJ Dolores e Yuri Queiroga, o documentário embala o público em uma viagem de 72 minutos – menos tempo do que a viagem real, que dura uma hora e meia – pelos subúrbios de Olinda e Recife, seguindo o itinerário do ônibus. No trajeto, depoimentos e paisagens retratam o cotidiano de pessoas que habitam os locais por onde o ônibus passa ou daquelas que apenas se deslocam por meio dele.

A sinceridade e o humor de alguns depoimentos pareceram conquistar o público. Por três vezes, aplausos irromperam durante a exibição do filme. “A ideia era justamente essa, de não ser algo especial, mas sim de usar uma visão mais cotidiana do Recife e de Olinda, próxima das pessoas”, afirmou a diretora Adelina Pontual.

A ideia do primeiro longa-metragem da pernambucana surgiu de um projeto pessoal dela, que, por muitos anos, usou a linha para ir à produtora onde trabalhava, em Olinda. “Eu não tinha outra opção. A partir da observação das cidades através do percurso desta linha, que já tem mais de 20 anos, veio a vontade de fazer esse filme”, contou. “Espero que as pessoas gostem”, acrescentou.

Adelina também participou da programação do festival no último sábado (27), na Mostra Pernambuco com o curta “Retrato”, segundo filme da Trilogia da Imagem, iniciada com “O Pedido”. Para o próximo ano, a diretora está com o projeto de desenvolver o fim dessa trilogia em torno da fotografia e de produzir um documentário sobre uma figura do Estado, cujo nome ainda é segredo.

Da Globo Nordeste

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