A baianização da cultura pernambucana

Imagem
Por Angélica Souza

Em sua segunda edição – a primeira aconteceu em outubro de 2011 – o PE Folia traz atrações de peso no cenário nacional como Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Netinho, Timbalada, Jammil, Saulo Fernandes, Cheiro de Amor, Tomate, Tuca Fernandes, entre outros, no próximo final de semana. Mas o que mais chama atenção – ou que deveria chamar – é a ausência dos grandes representantes da cultura pernambucana.

Ao contrário do que aconteceu em 2011, quando o evento foi realizado na orla de Piedade, este ano o carnaval fora de época não traz nenhum artista local. Onde está André Rio, Almir Rouche, Nena Queiroga, Spok, Gustavo Travassos, Alceu Valença e tantos outros nomes que abrilhantam o nosso carnaval? Por onde andam as vozes que arrastam anualmente mais de dois milhões de foliões no Galo da Madrugada? Será que estão em algum “grande carnaval fora de época” na Bahia? É certo que não. Baiano dá valor ao que é deles. É um “povo arretado” que dissemina sua origem, sua cultura, sua música sua história e que se orgulha disso. Pernambucano é diferente. Engole tudo que enfiam em nossas goelas, sem dó nem piedade e ainda se alegram com isso.

“Olha, esse final de semana vai ter PE Folia. Que legal! Vamos ver Ivete, Saulo, Timbalada” aqui, bem pertinho de nós e praticamente de graça!”. Mas o que ninguém questiona é porque não pode ter também Almir Rouche, André Rio, Nena Queiroga, Alceu Valença? O que ninguém pergunta é: porque trazer algo que é bom, mas que não é nosso, se nossa cultura é tão linda e tão rica?

Uma das músicas mais executadas durantes os quatro dias de carnaval fala da nossa riqueza, afinal “(…) só aqui que tem, que só aqui que há Duda no Frevo, Alceu, Antônio Nóbrega. Que só aqui que tem, que só aqui que há Rio de passos, Chuvas de Sombrinhas, o côco da Selma, a ciranda de Lia, o Passo da Ema, a cobra a passar, o frevo fervendo ao sol do meio dia, quarenta graus de Vassourinhas (…)” e incrivelmente todo mundo adora.

Nosso carnaval, multicultural, “é fogo, é frevo, fogo, brasa queimando o coração”, então, porque nosso carnaval “fora de época” tem que ser de ‘axé’?

É preciso repensar nossos valores e perceber que não é só no carnaval que temos que vestir a camisa de Pernambuco e dizer que tem orgulho de ser pernambucano. A Bahia tem seu valor, mas nós também temos e muito. É preciso cantar o hino de Pernambuco, do Galo da Madrugada, do Vassourinhas o ano inteiro. Ou então o senhor produtor desse grandioso evento poderia trocar o nome de PE Folia para o BA Folia. Combinaria mais com a proposta da festa.

Projeto de Lei –
O frevo fica completamente esquecido quando não estamos no período momesco. O ritmo, reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco desde dezembro de 2012, recebeu o título em cerimônia em Paris pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura .Aprovado com unanimidade pelos votantes, o ritmo musical foi o único candidato brasileiro avaliado na sessão, que contou com outras 35 propostas.

Pensando nisso, foi proposto pelo vereador do Recife, Marcos Aurélio Madeiros (PTC) e aprovada pela Câmara dos Vereadores do Recife, um projeto de lei que prevê que rádios de da capital pernambucana veiculem no mínimo uma vez ao dia uma o ritmo. Batizada como “momento do frevo”, as rádios musicais serão obrigadas a tocar uma música entre 8h e 12h ou 14h e 18h, como forma de incentivo de valorização da cultura. Em 9 de abril de 2013, o então prefeito da cidade do Recife, Geraldo Julio, assinou o projeto de lei que posteriormente foi publicado no Diário Oficial. As emissoras religiosas e jornalísticas, como a CBN, não serão afetadas.

Postar um comentário

Comente esta matéria

Postagem Anterior Próxima Postagem