Tão rico, bairro das Graças tem alguma das piores calçadas da cidade


Por Jamildo Melo

Quem circula no Recife, não precisa andar muito para encontrar calçadas danificadas, com esgoto estourado, sem iluminação, ocupada pelo lixo ou pelo comércio ambulante, além dos motoristas que, muitas vezes, utilizam o espaço como estacionamento para veículos. No próximo dia 27 de fevereiro, às 10h, acontece o projeto “Graças para Todos”, realizado pelo Grupo Ser Educacional e Associação de Moradores do Bairro das Graças, para apresentar um diagnóstico sobre as calçadas do bairro (estrutura e conservação), soluções viáveis, novas alternativas para a questão da acessibilidade pública e chamar a atenção da sociedade sobre papel fiscalizador na cobrança de ações concretas que visem a melhoria das calçadas na cidade.

O evento contará com a presença de representantes da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência (SEAD), Instituto dos Cegos, Associação de Moradores do Bairro das Graças, empresários locais, entidades sociais e públicas, sociedade civil e também o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga.

Durante o evento no Auditório Capiba, no Bloco C da UNINASSAU, será apresentado um estudo, realizado pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau – IPMN com apoio dos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINASSAU, sobre a atual condição das calçadas no bairro das Graças. O objetivo principal do projeto é mostrar as principais ideias utilizadas no bairro das Graças, que ajudaram a solucionar os problemas daquela área. Uma das medidas encontradas, por exemplo, que pode servir de modelo para o Recife, é o incentivo a adoção de uma calçada.

“Muitas praças hoje já são adotadas por grandes empresas, a sugestão é levar isso para as vias públicas também. A gente tem visto que as calçadas do Recife estão numa situação precária, atingindo não só as pessoas que têm problemas com mobilidade, como a população em geral. A UNINASSAU fez a adoção da calçada na Rua Joaquim Nabuco e deu certo. Queremos incentivar outras instituições a fazerem o mesmo e que a iniciativa possa ser um modelo multiplicador para ser adotado em toda a cidade”, explica o coordenador do Instituto Mauricio de Nassau, Sérgio Murilo Filho.

Diagnóstico

Dentro dos critérios avaliados pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau, o estudo apontou que 64,2% das calçadas possuem irregularidades e estão em más condições de uso (circulação), oferecendo risco ao pedestre. Apenas 20,4% das calçadas pesquisadas não têm degraus e permitem a passagem de cadeiras de rodas mesmo nas ruas em declive.

“De acordo com o conceito estabelecido pelo Ministério das Cidades, calçada é todo o pavimento de pedestres, com o mínimo de 1,20m e passeio é a faixa livre, que deve ter mais de 0,90m onde as pessoas devem circular. No entanto o estudo verificou que 54% das calçadas são estreitas, com menos de 1,20m, não oferecendo assim um nível de qualidade aos transeuntes. Para quem utiliza cadeira de roda e necessita cruzar uma rua ou avenida, o diagnóstico apontou que 79,5% das calçadas não possuem guias rebaixadas nas esquinas, além de que essas rampas não estão alinhadas com as faixas de pedestres”, ressalta o coordenador da pesquisa e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINASSAU, Arthur Mendonça.

Aproximadamente 20% das calçadas têm a área livre para circulação, ou seja, sem obstáculos do tipo mobiliários urbanos, postes, cestas de lixo, carros estacionados ou outros objetos que impeçam a passagem. A falta ou a baixa iluminação no ambiente de calçada também foi avaliada. Das calçadas do bairro das Graças, 24,7% estão completamente escuras, colocando em risco a circulação dos pedestres e gerando uma condição insegura nos moradores.

A pesquisa quantitativa diagnosticou ainda que a grande maioria das vias, 78,2%, não tem faixa de pedestre nem piso podotátil (piso de alerta e direcional) e muito menos sinalização vertical e sonora. O único sinal sonoro fica situado na Rua Guilherme Pinto, em frente ao Instituto de Cegos (Nº 155)

Ranking

Além do mapeamento no bairro das Graças, foi criado um ranking das calçadas incluindo outras localidades do Recife. A metodologia de cálculo foi a média aritmética das avaliações de cada parâmetro por rua, onde zero retrata uma condição de inacessibilidade e o valor 10 uma calçada ideal, ou seja, aquela que apresentou na pesquisa os melhores resultados. Os resultados do estudo realizado pela equipe do portal “Mobilize Brasil” considerando a região Recife foi: Rua do Hospício (3,00); Av. Norte (4,25); Rua dos Navegantes (4,50); Av. Conde da Boa Vista (5,38); Av. Caxangá (6,13); e Av. Boa Viagem (8,50).

O estudo realizado pelo IPMN no bairro das Graças mostra que cerca de 65% das calçadas apresentaram baixo nível de qualidade em acessibilidade, ou seja, no Ranking estão entre zero e 4,43. As melhores condições de acessibilidade apresentadas estão em 19,2% das calçadas, mas no Ranking os valores estão entre 5,25 e 6,63. A pior condição apresentada está na Travessa do Jacinto.

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