Nem sempre férias é sinônimo de descanso


Por Luciana França

O descanso é fundamental a todos, desde um estudante até o mais alto executivo de uma corporação. Tirar folga permite aos profissionais fazer uma manutenção, cuidar melhor da vida pessoal e fazer o que o “corre-corre” diário impede muitas vezes. Rafael*, Márcia e Lívia são pessoas que trabalham em empresas distintas e possuem cargos completamente diferentes, mas eles têm algo em comum: a dificuldade em se desligarem do trabalho mesmo quando estão de férias.

Rafael, que prefere não ser identificado e usar um nome fictício*, é diretor-executivo de uma rede com 58 lojas de roupa. Seu tempo dedicado ao repouso é de no máximo 15 dias consecutivos. Ele brinca para definir suas tentativas de descanso: “Eu consigo ‘tirar’ férias, mas nunca ‘saio’ de férias”. Para o empresário é difícil ficar “fora do ar” e esquecer completamente do ofício, porque os pensamentos sempre o levam ao trabalho. “Novas ideias pa­ra investir na organização surgem até mesmo em uma viagem de dias focada no prazer. Às vezes, minha mulher se queixa e pede para eu relaxar”, completa.


No caso da jornalista Márcia Nascimento, quando trabalhava como secretária executiva de uma agência do Estado, além de ter dificuldade em tirar os 30 dias corridos de descanso - por possuir um cargo de confiança - colegas de trabalho ignoravam o fato dela estar em recesso. “Mesmo no meu repouso o pessoal não parava de telefonar para que eu solucionasse problemas. Eu sempre atendia, a demanda e responsabilidades eram tantas que muitas vezes até perdia o sono”, conta a profissional que não se acha centralizadora e diz fazer questão de delegar funções.

Já a assistente de controladoria de um grupo de concessionária de veículos Lívia Rodrigues, em suas últimas férias apareceu no local de trabalho seis vezes. “Além de eu ser hiperativa, gosto do que faço, não há alguém que saiba conduzir com perfeição minhas atribuições como eu e assim meu chefe compreende que pode contar comigo a qualquer momento”, explica. Mas ela também confessa que, por ter dificuldades em se desligar totalmente do trabalho, deixa de fazer coisas que considera importantes em sua vida. Por exemplo, há anos têm dificuldades em tirar sua carteira de motorista por não ter tempo para se dedicar às aulas de direção.

De acordo com a personal e professional coach pela Sociedade Brasileira de Coaching, Nathalya Silva, o investimento mais precioso que as pessoas podem dar a si mesmo é o tempo. E avisa que emendar um projeto no outro ou não fazer uma pausa pode ter consequências negativas para o estado emocional ou de saúde do trabalhador. “As pessoas muitas vezes pensam que ir de um projeto a outro pode ‘otimizar’ o tempo, consequentemente, seus resultados. Contudo, o que acontece é justamente o inverso. É muito mais provável que seu rendimento caia pela exaustão, causando estafa, frustração, e até mesmo, doenças cardiovasculares”, esclarece.

Nathalya Silva, que também é sócia fundadora do Instituto Vitta - empresa que atua com Coaching e Treinamentos Comportamentais -, diz que o perfil de colaboradores que costumam protelar ou até mesmo “vender” as férias é de pessoas extremamente competitivas ou inseguras, preocupadas com que os negócios ou atividades sofram prejuízos com sua ausência, podendo, geralmente, esses profissionais serem centralizadoras, por preferirem não trabalhar em equipe e/ou não confiarem no trabalho de terceiros. Ainda lembra que este tipo de comportamento pode ser também uma fuga e está relacionado a problemas pessoais.

Arte: Davi Paes

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