Porque doarei meu auxílio-paletó

Por Raul Jungmann

Não encontro razões para que nós parlamentares recebamos o 14ºe 15º salários todos os anos, o "auxílio-paletó" .

Não sei, portanto, como explica-los. E, em política, tudo que não se consegue explicar é negativo. Pois, como agentes públicos, devemos explicações dos nosso atos perante aqueles a quem representamos.

De quebra, o tal auxílio já foi derrubado no Senado Federal e na Câmara de Olinda, dentre outros, além de ter parecer contrário da Justiça Federal, . Está, portanto, com seus dias contados.

Se sou contra tais salários-extra, disso devo tirar conseqüências. E, no caso, elas são duas: lutar pela sua extinção, via projeto de lei, e não receber, doando, os recursos a mim destinados. Não concebo outra saída decente em tal caso.

Certamente serei acusado por alguns de buscar holofotes, fazer pirotecnia e de querer denegrir a imagem da Casa de José Mariano; por outros ainda, de ter recebido o mesmo auxílio quando deputado federal.

Quem assim fala, desconhece que liderei o movimento pela extinção do 14o, 15o, 16o e 17o salários (os dois últimos extintos) na Câmara Federal; a nossa luta pelo fim do voto nulo em questões disciplinares (emenda constitucional que conseguimos votar em 1o turno) e de ter derrubado aumento de 91% para o deputados e senadores no STF - caso único em nossa história.

Como ignoram que liderei, quando deputado, a redução do tempo do recesso parlamentar e férias de 90 para 45 dias. E o mesmo fiz com os jetons das convocações extraordinárias, hoje extintos, cujo valor doei a Casa de Passagem.

No caso do recesso e férias, no passado talvez se justificasse período tão longo longe do Congresso Nacional.

Afinal, para se ir daqui ao Rio de Janeiro era necessário pegar um vapor, um Ita, e levar dias em viagem Ou, pior, semanas em lombo de burro para atravessar os sertões e chegar ao oeste e norte do pais.

Não desconheço que serei alvo de críticas de parte dos que fazem a Câmara Municipal. Porém, é preciso enfrentar incompreensões e raiva se queremos refundar a política e conquistar a confiança perdida da cidadania.

Isto porque, assim como as palavras desacompanhadas de gestos se espatifam no chão qual pássaros de porcelana, a política sem confiança entre representantes e representados não se sustenta e é uma ameaça a democracia.

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