DP e Rural precisam divulgar o nome dos restaurantes japoneses

Por Pierre Lucena

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Ontem o Diário de Pernambuco publicou uma manchete de uma pesquisa, cuja divulgação seria de enorme interesse público: a contaminação em alimentos consumidos em restaurantes de culinária japonesa no Recife.

Segundo a pesquisa da Professora Neide Shinohara, da Universidade Rural de Pernambuco, cerca de 30% dos restaurantes pesquisados apresentam bactérias que podem trazer sérios prejuízos à saúde. Ela teria pesquisado 11 restaurantes nos bairros do Espinheiro, Aflitos, Derby, Casa Forte e Boa Viagem. Em resumo, quase na cidade inteira.

Ao contrário da maioria das pesquisas nas universidades, que tratam do sexo dos anjos, esta é de enorme interesse social.

Tudo muito bem, se não fosse por um detalhe: onde está o nome dos restaurantes que possuem comida contaminada?

A divulgação desta pesquisa desta forma é completamente irresponsável. Ao mesmo tempo em que joga uma nuvem de sujeira em todos os restaurantes, ainda oferta pânico nos frequentadores, que obviamente ficaram muito desconfiados com todos os restaurantes da cidade. O jornal jamais deveria aceitar a publicação de uma reportagem sem fornecer os dados, que são de interesse público.

Ontem fiz um questionamento no Facebook sobre a irresponsabilidade desta matéria, cobrando os nomes dos restaurantes. Muitos outros devem ter feito o mesmo.

Curiosa foi a explicação dada no jornal de hoje, após fazer um espalhafato dizendo que o Ministério Público iria investigar o caso.

“A lista dos estabelecimentos não foi divulgada, uma vez que a publicação poderia inviabilizar a pesquisa científica”.

Oi? Poderia inviabilizar a pesquisa científica? Como assim?


Para a Doutora Shinohara, não importa quantas pessoas sejam
contaminadas, o importante é não comprometer a pesquisa

O promotor, que se mostrou responsável, de início cobrou a lista dos restaurantes.

Só consigo imaginar dois motivos para a não divulgação da lista, ambos absurdos.

O primeiro é que professor universitário adora falar do geral, mas na hora de apontar os responsáveis simplesmente não quer se expor. Esquece que recebe salário para uma pesquisa pública que deveria alertar a população.

O segundo é porque o pesquisador está atrás do preenchimento do Lattes, apenas para ganhar uns pontinhos Qualis com a divulgação de um paper, que poderia ficar prejudicado. Isso poderia acontecer porque a pesquisa não seria mais inédita, já que os resultados teriam sido divulgados.

Acredito que este segundo ponto é o mais provável.

O papel do pesquisador brasileiro nas universidades está realmente neste nível de patetismo.

A pessoa faz uma descoberta de interesse social, com cientificidade, e simplesmente não revela o nome dos culpados para não prejudicar os seus pontinhos da Capes, e talvez com isso inflar um pouquinho seu currículo Lattes.

Em outras palavras, para o pesquisador o importante é a publicação de um paper e para o Diário de Pernambuco o importante é vender jornal, nem que para isso milhares de pessoas continuem comendo comida contaminada e outras dezenas percam o emprego em função do pânico gerado, já que o próprio jornal se encarregou de dizer que esta contaminação pode levar à morte.

Isso é um absurdo.

Essa proliferação do Homo Lattes nas universidades precisa receber um freio rapidamente. Este sistema de produtivismo (que nada tem a ver com produtividade), fez com que o Brasil tivesse um grande volume de publicações científicas, mas que não conseguem gerar nada de valor. Só para termos uma idéia desta incompetência científica, um iPhone tem o dobro de patentes internacionais que o Brasil inteiro gerou em um ano.

Procedimentos de divulgação, como o adotado pela Professora Shinohara, são um reflexo disso. E ao contrário de grande parte dos pesquisadores, a professora tem experiência prática, já que é a responsável pelo Restaurante Universitário da UFRPE. Não se trata de alguém que não sabe as consequências de um pânico no setor. E o impacto de uma divulgação como essa na manchete de um jornal é enorme e acarreta enorme prejuízo a todos.

Mas vamos fazer nossa parte, cobrando de quem recebeu dinheiro público para pesquisar.

Então ficamos acertados assim: toda vez que alguém comer comida japonesa e passar mal, lembre-se que a Professora Shinohara se negou a divulgar a lista da comida contaminada.

Tudo isso apenas para não prejudicar sua pesquisa, mesmo que isso prejudique a sua saúde.

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