'Ai, Eduardo Campos, se eu te pego!'

Por Téta Barbosa

Certezas caem por terra tão rápido quanto o Costa Concórdia em águas italianas.
A Terra já foi plana, o sol já foi Deus, o Papa já foi pop.

Pior se a certeza for absoluta. A queda é maior do que a aprovação popular de Eduardo Campos neste momento em Pernambuco.

As certezas mudam de acordo com os anos, a direção do vento e a umidade relativa do ar.

E mudam, principalmente, de acordo com a sua distância em relação à verdade.

É como sofrer por amor: é lindo na novela, mas na pele não tem cena em slow nem sobe som de Lionel Richie.
Poesia é a mãe, pensa você na hora que levou o pé na bunda.

E, apesar de óbvio, só descobri isso hoje, assistindo o telejornal local.

Na minha cabeça lírica, poética e levemente alienada, típica da minha geração, havia um “romantismo artístico” na ditadura.

Não da ditadura, mas de quem viveu na ditadura.

Imaginava uma juventude politizada e uma sociedade engajada.

Justificava, até algumas horas atrás, nossos Michel Telós e BigBrothers com o argumento da falta de ideologia. Se vivêssemos sob a marcha dos militares, pensava eu, novos Chicos estariam escrevendo novos “apesar de você” e não estaríamos dançando “ai se eu te pego” nem levantando o mamãe-sacode por aí.

Até que, a ditadura soprou seu bafo morno no meu cangote e eu mudei de opinião em três segundos. Foi tudo que levou meu amigo, três segundos.

Quando assisti, na televisão, um policial militar carregando uma estudante de vinte e poucos anos pelo pescoço, nos dias de hoje, na minha cidade, pensei: “vou abrir um fã clube de Teló e confeccionar mamãe-sacodes para distribuir com as amigas”.

Porque, caro colega da minha geração, se o preço a se pagar por uma classe artística de qualidade for a falta de liberdade de expressão dos jovens e cidadãos do Recife, vou ser a primeira a dançar “ai, se eu te pego”em praça pública com direito a coreografia.

Tentei ser imparcial, isenta de partidarismo, fria e calculista, mas, diante da cena eu pergunto:

- Que porra (com licença da palavra de baixo calão) está acontecendo no Recife?

Como um protesto pacífico contra o aumento de passagens se trasformou no novo AI5?

Vou ter que fazer as malas e me exilar na Noruega?

* nota para os não pernambucanos: Eduardo Campos, o Governador do Estado, ainda não justificou as recentes ações da nossa polícia. As passagens de ônibus subiram 6,5% é tudo que o Governo tem a dizer por enquanto.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos

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