Vaclav Havel, o dramaturgo dissidente que inseriu o teatro na política para pacificamente pôr fim ao comunismo na antiga Checoslováquia e se tornar um herói na luta épica que pôs fim à Guerra Fria (1947-1991), morreu aos 75 anos na manhã deste domingo em sua casa no norte da República Checa.
Havel foi o primeiro presidente democraticamente eleito depois da não violenta "Revolução de Veludo", que acabou com quatro décadas de repressão de um regime que ele ridicularizou como "Absurdistão". Como presidente, ele supervisionou a irregular transição para a democracia e a economia de livre mercado, assim como o pacífico desmembramento do país, em 1993, em República Checa e Eslováquia.
Mesmo fora do poder, o pequeno checo continuou como uma personalidade mundial. Ele fez parte da "nova Europa" - na descrição do então secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, - dos ex-países comunistas que apoiaram os EUA enquanto as democracias da "velha Europa" se opuseram à invasão do Iraque, em 2003.
Um ex-fumante inveterado, Havel tinha um histórico de problemas respiratórios que datavam de seus anos nas prisões comunistas. Ele foi internado em Praga em 12 de janeiro de 2009 com uma inflamação não especificada e desenvolveu dificuldades respiratórias após ser submetido a uma pequena cirurgia na garganta.
Havel deixou a presidência em 2003, dez anos depois da divisão da Checoslováquia e apenas poucos meses antes de as duas nações resultantes aderirem à União Europeia. Ele foi considerado responsável por pavimentar o caminho que levou sua República Checa ao bloco de 27 países, e era presidente quando ela aderiu à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 1999.
Tímido e leitor voraz, Havel acabou por simbolizar o poder do povo que pacificamente destitui um regime totalitário. "A verdade e o amor devem prevalecer sobre as mentiras e o ódio", disse. A frase tornou-se seu slogan revolucionário, com ele afirmando que sempre lutaria para o cumprir.
Havel foi indicado várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz e colecionou dezenas de láureas em todo o mundo por seus esforços como embaixador global da consciência, defendendo os oprimidos de Darfur a Mianmar.
Entre muitas das honras que recebeu está o prestigioso Prêmio Olof Palme, da Suécia, e a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta premiação civil dos EUA, que lhe foi concedida por Bush por ser "um dos grandes heróis da liberdade".
Do Último Segundo/IG , com AP