Ex-lixeiro vence maratona e orgulha o Brasil

GUADALAJARA (AE) - Em 2h16min37, Solonei Rocha da Silva alcançou o sonho de uma vida: coroou a recém-iniciada carreira de atleta profissional com o ouro da maratona dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, última medalha conquistada pelo Brasil no México. Até dois anos atrás, ele era lixeiro em Penápolis, no interior paulista. E, ontem, participou apenas da sua terceira prova na distância.

Para quem enfrentava cerca de 25 quilômetros de corrida a cada dois dias, enquanto fazia a coleta do lixo, Solonei encarou os 42.195 metros da maratona de Guadalajara com relativa tranquilidade. Disparou no 20º quilômetro e abriu quase um minuto em relação ao segundo colocado, o colombiano Diego Alberto Colorado. E, certo da vitória, já começou a carregar a bandeira brasileira quando faltavam três quilômetros para cruzar a linha de chegada.
Na chegada, ele sambou diante da torcida mexicana, enquanto percussionistas improvisavam o ritmo brasileiro. “Toda prova é a prova da nossa vida, não é só porque está valendo ouro”, disse Solonei, de 29 anos. “Quando eu estou correndo, é o meu trabalho. Corro para dar o melhor de mim, uma qualidade de vida melhor para a minha família”.

A respeito de seu antigo trabalho, Solonei mostra verdadeira postura olímpica. “Tenho muito orgulho. Essa sempre vai ser a resposta que eu vou dar quando me perguntam do passado: orgulho”, revelou o ex-catador de lixo. Agora atleta profissional, faz planos para o futuro. O atletismo lhe proporcionou voltar aos estudos. “No fim do ano, vou fazer vestibular para Educação Física. Quero correr até os 40 anos e depois trabalhar com a base”, revelou.

Clodoaldo Lopes do Carmo, ex-atleta olímpico e técnico do maratonista, exaltou o feito do pupilo. “Solonei é uma lição de vida, por tudo o que ele passou, pelo pouco tempo que ele tem de atletismo. Ele postou no Facebook que essa era a oportunidade da vida dele e que ele não iria deixar escapar. Ele merece”, revelou.
Solonei começou a treinar sistematicamente em setembro de 2009, na extinta equipe Rede Atletismo - hoje, é atleta do Pinheiros. Foi levado para Bragança Paulista pelo então médico do time, Mauro Moreira, também de Penápolis. “No primeiro teste, ele fez um tempo bom. Arranjamos um lugar para ele ficar por três meses”, lembrou Clodoaldo. “Em dezembro, ele já era um dos principais atletas das provas de rua do Brasil”.

Em maio do ano passado, Solonei participou de sua primeira maratona. Em Porto Alegre, venceu com o tempo de 2h15min43. Neste ano, em Padova (Itália), encarou a distância pela segunda vez: em quarto lugar, cravou 2h11min32, que é o segundo melhor tempo do Brasil na temporada, atrás apenas de Marilson Gomes dos Santos (2h06min34), que competiu só nos 10 mil metros em Guadalajara.

Para a maratona do Pan, foram quatro meses de preparação e quase 50 dias de treino em altitude. Solonei reclamou de um problema na panturrilha, o que não deve tirá-lo de sua próxima meta: a conquista do índice para a Olimpíada de Londres, em 2012.

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