Chegará ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), em algumas semanas, um dossiê que pode mudar os rumos da investigação da morte do boxeador italiano, naturalizado canadense, Arturo Gatti. Dois detetives particulares americanos conduziram as apurações realizadas com a colaboração de sete especialistas, a pedido da família da vítima, que não acredita no suicídio como causa da morte. A reportagem da Folha de Pernambuco teve acesso ao documento, baseado na opinião desses experts, que detalham em mais de 300 páginas uma nova versão para este caso. Nas edições de hoje e de amanhã o leitor poderá conhecer as principais informações contidas no relatório traduzido pelas repórteres Bárbara Franco e Júlia Veras, que também assinam a reportagem.
“A morte de Arturo Gatti foi um assassinato”. Essa é a afirmação encontrada inúmeras vezes no dossiê que re-investiga a morte do boxeador italiano, naturalizado canadense, encontrado morto no chão de um apartamento num resort em Porto de Galinhas, no dia 11 de julho de 2009. O relatório, fechado em 327 páginas, critica as diligências realizadas no Brasil, além da perícia feita no local do crime. O grupo de especialistas (confira box) consultados por Paul J. Ciolino e Joseph M. Moura, investigadores particulares, argumentam por meio de gráficos, dados, declarações, simulações e até mesmo vídeos em 3D (três dimensões) suas teses de que Arturo Gatti não cometeu suicídio.
Para os profissionais, que trabalharam na resolução deste dossiê, um dos pontos da perícia técnica que justifica essa ideia é que a alça indicada como instrumento para o enforcamento não poderia sustentar mais de 35 quilos por um período de cinco segundos. Arturo pesava 70 quilos o que levaria a crer que a alça se romperia em 2,5 segundos se usada para suspender o seu corpo. Outro questionamento em relação a esse objeto é que ele não foi encontrado no pescoço da vítima, e sim sob um móvel localizado na cozinha próximo ao local em que estava o corpo.
O cientista forense Brent E. Turvey apresenta em seu relatório o que ele acredita ter sido “uma série de equívocos” dentro da perícia realizada pelo Instituto de Criminalística de Pernambuco. Ele informa que trabalhou em cima das fotos da cena do crime e dos relatórios traduzidos da investigação da polícia brasileira e da autópsia. Questiona o fato relatado por Amanda que, no dia do crime, ela acordou às 6h para alimentar o filho, e para isso, teve que descer a escada sob a qual estava o corpo de Arturo, caído, ensanguentado e com lesões pelos braços. Na mesa, havia duas toalhas sujas de sangue. Não haveria, segundo Brent, como a esposa do lutador não notar a cena de violência exposta em sua sala.
Embora a polícia pernambucana tenha afirmado que o ferimento na parte de trás da cabeça do boxeador teria sido provocado por pedradas que o casal teria recebido de pessoas desconhecidas que se incomodaram com o barulho provocado pelo casal durante uma briga, Brent discorda dessa ideia. O especialista argumenta que esse ferimento, que estaria diretamente relacionado com a sua morte, causou imediatamente um forte sangramento, como foi observado no piso próximo ao corpo. Se Arturo tivesse se ferido desta maneira ainda na rua, argumenta Brent, o táxi tomado por ele ficaria tomado de sangue, bem como o líquido teria se espalhado e manchado suas roupas, as vestimentas do seu filho, e toda a área do apartamento por onde ele tivesse andado.
No entanto, segundo ele, não consta na perícia nenhuma imagem de qualquer área ou objeto ensanguentados pela casa, além das duas toalhas, que estariam apenas manchadas e não pareceriam ter sido utilizados para estancar uma hemorragia, o que para o especialista denunciaria que alguém a utilizou para limpar sangue. Porém, não foi realizado um exame de DNA para saber de quem é o fluido.
Como o ferimento estava localizado na parte de trás da cabeça do canadense, ele teria sido causado por outra pessoa, pouco antes de sua morte. Para Brent, ele estava semi-consciente e sangrando quando foi esganado. Ele afirma ainda que a marca no pescoço do lutador apresenta contusões apenas de um lado, evidenciando resistência por parte da vítima, o que não seria compatível com um ato suicida. Brent também contra-argumenta a perícia pernambucana asseverando que, se Arturo tivesse passado por alguns minutos pendurado, gotas de sangue teriam escorrido pelo seu corpo em direção ao chão, o que não foi fotografado - apenas a poça em torno de sua cabeça.
Da Folha PE