Os Joões e o trânsito

Por Terezinha Nunes

Mudanças pontuais no trânsito do Recife eram comuns anos atrás. Ora para introduzir na geografia da cidade uma obra nova – em geral pontes e viadutos – ora pela necessidade de por em prática alterações necessárias para uma melhor fluidez dos ônibus e automóveis.

Em geral essas intervenções demoram um certo tempo para se consolidar e, normalmente, causam transtornos nos primeiros dias, daí a iniciativa da Prefeitura do Recife de realizar as recentes mudanças no tráfego na Agamenon na época das férias.

Nada indica, porém, que os transtornos iniciais causados nos arredores da Agamenon – quer nas vias locais ou nas ruas e avenidas do entorno – vão acabar nos próximos dias.

Em que pese a boa vontade e os estudos dos engenheiros de tráfego que devem ter sugerido as mudanças, é muito difícil resolver o problema da nossa principal via urbana sem intervenções mais sérias, o que significa obras de pedra e cal.

E, por falar nisso, quem se lembra de alguma obra realizada no Recife nos últimos dez anos, visando a preparação da cidade para receber cada vez mais ônibus e veículos particulares?

Uma cidade cortada por rios e canais, como é o Recife, pressupõe, entre outras coisas, a construção de pontes e viadutos permanentemente. Ou isso ou a melhoria substancial do transporte coletivo.

Infelizmente as administrações petistas – tanto os oito anos de João Paulo quanto os atuais de João da Costa – não cuidaram suficientemente nem se uma coisa nem de outra.

O resultado é o caos estabelecido. Está certo que ele seria pior se não fosse a retirada das kombis que João Paulo pontua como iniciativa dele. Uma meia-verdade. Tratou-se de uma parceria entre a Prefeitura e o Governo do Estado- na época comandado por Jarbas Vasconcelos. O prefeito poderia ter impedido a operação se desejasse mas, deve-se reconhecer, que, ao invés disso,colaborou em muito para o seu sucesso. Quem a comandou, porém, foi o Estado, com a participação inestimável da EMTU e da Polícia Militar.

Talvez até embevecido com os primeiros momentos de calmaria provocados pela ausência do transporte alternativo, o então prefeito se descuidou do futuro e a única intervenção conhecida que realizou foi a transformação da Conde da Boa Vista em via preferencial para o transporte coletivo. Um projeto até hoje criticado e merecendo de mudanças que João da Costa está prometendo fazer.

O resto foram projetos. A via Mangue continua, após idas e vindas, em lenta construção e a obra do viaduto Capitão Temudo demorou demais simplesmente porque foi planejada com tal descaso que se deixou de observar que por baixo dela passa uma linha do Metrô.

Uma capital que, segundo o Denatran, vem recebendo 100 novos veículos por dia em suas ruas, merecia uma preocupação bem maior do que essa. Para se ter uma idéia, em 10 anos de administração petista foram matriculados no Recife 365 mil novos veículos.

Agora, imagine-se a dimensão desse número de automóveis a mais sem que novos pontos de escoamento tenham sido criados. É por isso que hoje um simples percurso entre a rua da Hora e a Agamenon, dependendo do horário, dura mais de meia-hora. A pé, um transeunte o faz em menos de cinco minutos.

Nessa questão do trânsito, portanto, os dois joões, em que pese os estilos diferentes, cometeram os mesmos pecados. A única coisa que pesa contra João da Costa é o fato de ter ficado na prefeitura os dez anos citados quando João Paulo ficou oito. No mais, a culpa é a mesma.

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