A primeira entrevista de Fernando Bezerra Coelho como ministro
Postagem Gabriel Diniz
Fernando Bezerra Coelho - Chegou o final do processo e a gente realmente fica muito honrado com o convite da presidente Dilma Rousseff, também muito agradecido ao apoio do governador Eduardo Campos, ao apoio de todo o partido PSB, dos seus governadores, da bancada federal. Estamos agora desafiados a honrar esta indicação, para colaborar e constribuir para a construção de um Brasil ainda maior.
PERGUNTA - Como foram estas últimas três semanas de indefinição?
FBC - Faz parte do processo polÃtico. A gente sempre teve muita confiança. As negociações foram lideradas pelo nosso governador, pelo presidente do nosso partido. O processo foi mais demorado do que imaginávamos, mas acho que concluÃmos bem.
PERGUNTA - O Ministério da Integração Nacional será, como se diz no jargão polÃtico, de porteira fechada para Pernambuco ou os cargos serão divididos entre o partido?
FBC - A presidente Dilma pediu ao governador Eduardo Campos que tivesse uma conversa com todos os governadores do Nordeste. Essa conversa foi desenvolvida, inicialmente, com os governadores do PT, Wagner e com Deda, e, em sequência, com todos os governadores do PSB, governador Cid, do Ceará, governador Wilson, Ricardo Coutinho, que são os governadores do PSB, e acho que os cargos serão indicados primeiro por mérito, pessoas que possam agregar qualidade e possam trazer suas experiências para que a gente possa realizar um bom trabalho.
PERGUNTA - Já tem algum nome?
FBC - Vamos nos reunir primeiro com uma equipe que já estamos definindo. Amanhã estou indo à BrasÃlia. Vou me reunir com o ministro João Santana (atual titular da pasta) para receber as primeiras informações. A presidente Dilma me recomendou que recebesse todas essas informações dos projetos, dos programas que estão sendo tocados. Pediu atenção especial para as duas maiores obras, que são a Transposição do São Francisco e a obra da Transnordestina. A partir deste primeiro encontro com João Santana a gente vai começar a definir os nomes que vão formar a equipe.
PERGUNTA - Pernambuco indicará o nome que comandará a Codevasf?
FBC - Vamos conversar com os governadores do Nordest e com o presidente do nosso partido. A presidente Dilma deu muita autonomia. Ela vai cobrar de mim que a gente indique quadros que estejam a altura do desafio.
PERGUNTA - Está aliviado agora?
FBC - Animado. Animado, desafiado para poder começar o trabalho.
PERGUNTA - O senhor tem algum projeto que pretende emplacar no Ministério?
FBC - Acho que o momento agora é de primeiro levantar as informações. Mas a primeira conversa, o primeiro encontro com a presidente Dilma foi muito produtivo. Ela pediu a minha opinião sobre a Transposição. Eu disse a ela que vai ser mais fácil concluir a obra da Transposição. O grande desafio é como gerir o canal da Transposição. Como manter o canal, como cobrar a água do canal, como a água poderá ser utilizada para o abastecimento humano, para os fins industriais, comerciais e de irrigação. Este é um desafio. A partir da obras da Transposição, nós temos a chance de estabelecer a meta de universalizar o acesso à água a todas as pessoas que moram no semi-árido nordestino. São 22 milhões de pessoas e o acesso à água é muito complicado. A região do Agreste de Pernambuco é a região de maior deficiência hÃdrica do Nordeste. Então, além da transposição, é importante realizar os investimentos em adutoras para que a gente possa resolver o problema de abastecimento hÃdrico. Vai ser construÃdo um grande programa de recursos hÃdricos para o Nordeste brasileiro. Mas também tivemos a oportundiade de colocar para a presidente Dilma que esse ministério se chama Ministério da Integração Nacional, mas ele é visto sempre como o "Ministério do Nordeste". Está na hora de reposicionar o ministério, no sentido de que ele também possa ter um olhar mais atento para outras regiões do Brasil. Porque mesmo no Sul, no Sudeste, nós identificamos regiões muito pobres. O Vale do Ribeira, em São Paulo, a região sul do Rio Grande do Sul... Então, tem grandes desafios e ela quer me ajudar e me estimulou muito a reposicionar o ministério, para ter uma visão mais nacional do que ter uma visão mais especÃfica para o Nordeste.
PERGUNTA - Diante de tantas desigualdades regionais, qual será o maior desafio que o senhor tem a enfrentar?
FBC - O Ministério da Integração Nacional tem como atribuição a polÃtica de recursos hÃdricos para todo o Brasil. Então, a oferta de água é um desafio importante. Tem também como atribuição toda a polÃtica nacional de irrigação. É preciso fazer mais do ponto de vista de irrigação. No Nordeste, em particular, mas também no Centro-Oeste e em outras regiões brasileiras. Precisamos também pensar em obras que integrem a economia das regiões mais pobres com as regiões mais dinâmicas. Então, essas obras passam por ferrovias, por transposição de águas, por rodovias... É um olhar mais abrangente sobre os desafios brasileiros e o que diz respeito à integração de regiões mais pobres com regiões mais ricas.
PERGUNTA - O que vai ser determinante para o senhor formar a sua equipe?
FBC - Capacidade de trabalho, experiência e competência. Foi isso que a presidente me recomendou.
PERGUNTA - Faz só uma hora e cinco minutos que o senhor é ministro e já sabe tudo isso que vai fazer?
FBC - Conversei com Dilma ontem, na Granja do Torto.
PERGUNTA - Já como ministro?
FBC - Não. Recebendo o convite para assumir a pasta da Integração Nacional. Amanhã eu volto a BrasÃlia. Às 10h vou estar com o ministro João Santana. Já estou levando uma equipe pequena de transição para poder começar a levantar os dados de trabalho. Vou também procurar me avistar com o ministro Nelson Jobim (Defesa). O Ministério de Integração também tem como responsabilidade toda a polÃtica de Defesa Civil e normalmente ocorrem muitas chuvas pesadas no Sul e no Sudeste do PaÃs no inÃcio do ano. Ela me recomendou especialmente, se tivermos que enfrentar algum problema já no inÃcio do governo, procurar se articular com o Ministério da Defesa para que a Secretaria de Defesa Civil possa estar ingrenada para uma eventual ocorrência.
PERGUNTA - Qual seu cronograma de ações até tomar posse como ministro?
FBC - Primeiro é só levantar as informações. Ver os programas que estão sendo tocados, como é que estão as obras, com essa atençao especial para estas duas maiores obras que são a Transposição e a Transnordestina, e fazer todo um levantamento dos demais órgãos do ministério, como é o caso da Sudene, da Sudam, procurando saber como que esses órgãos estão atuando. Os dois grandes braços do ministério são o Dnox e a Codevasf. Também num momento oportuno, possivelmente na próxima semana, a gente vai colher informações sobre Codevasf e Dnox.
PERGUNTA - Como vai ficar o Complexo de Suape, do qual o senhor é presidente, agora?
FBC - Eu vou trabalhar como secretário de Desenvolvimento Econômico até o dia 31 (de dezembro). Foi uma responsabilidade que me deu muita alegria. A gente estar concluindo este trabalho ao lado do governador Eduardo Campos tendo a satisfação de receber o presidente Lula no próximo dia 28 e já colocar a pedra fundamental deste grande empreendimento industrial que é a fábrica da Fiat, que vai alavancar uma nova cadeia de negócios para Pernambuco. Estou muito feliz de estar concluindo um trabalho que realizei sobre a liderança do governador e estar iniciando outro grande trabalho, tendo merecido o apoio e a indicação do governador Eduardo Campos para poder servir ao Brasil e à presidente Dilma Rousseff.
PERGUNTA - Vai conseguir fazer um sucessor (na Secretaria de Desenvolvimento Econômico)?
FBC - O governador não conversou comigo. Não posso fazer nenhum comentário. No momento certo o governador vai abrir esta conversa. Ainda não abriu.
PERGUNTA - Ciro Gomes, que iria ser ministro da Integração Nacional, já lhe desejou boa sorte?
FBC - Falei com Cid Gomes. Ciro está viajando. Mas Ciro é um grande brasileiro. Tenho uma grande admiração por ele. Trabalhamos juntos, fiz a campanha dele para presidente. Portanto tenho uma sincera admiração pelo Ciro.
PERGUNTA - Como vai ser a questão da Sudene?
FBC - Conversamos sobre isto. Acho que a Sudene precisa ser reposicionada. Ainda são ideias preliminares, mas acho que precisamos dar um novo desafio para a Sudene. A Sudene apenas com as isenções de imposto de renda e com o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, de apenas R$ 1,5 bilhão, é muito pouco para os problemas do Nordeste. Hoje os governadores do Nordeste brigam por recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Ministério do Planejamento, Casa Civil... E a Sudene tem um papel importante como articuladora de polÃticas públicas, de planejamento, de antevisão das obras de intervenção que precisam ser feitas para que o Nordeste possa de fato diminuir sua distância em relação ao resto do PaÃs. Mas eu coloquei para a presidente algumas ideias iniciais. Ela pediu para aprofundar. No momento correto nós vamos levar. Acho que dois grandes papéis a Sudene poderia ter. Um, poderia servir como um grande órgão executor de uma polÃtica pública que pudesse fazer a transição da Bolsa FamÃlia para a empregabilidade. É no Nordeste brasileiro onde a gente tem o maior volume de Bolsa FamÃlia, de pessoas mais pobres. Então, (ela poderia) articular polÃticas públicas com diversos ministérios que possam garantir a empregabilidade e a saÃda do Bolsa FamÃlia. Porque o Bolsa FamÃlia tem que ser visto como algo transitório. Em segundo lugar, acho que a Sudene tem que recuperar este papel de reforçar a infraestrutura do Nordeste. O NOrdeste só vai dar dinamismo à sua economia se for capaz de realizar obras de infraestrutura importantes. A Ferrovia Transnordestina é um começo. Mas temos diversas outras ferrovias a serem feitas. Temos a conexão ferroviária da Transnordestina com a Centro-Atlântica, na Bahia, temos a ligação da Transnordestina com a Norte-Sul, temos o inÃcio da nova ferrovia que vai ligar o Oeste baiano até Ilhéus, para a construção de um novo porto da Bahia. São muitas obras de infraestrutura que precisam ser feitas. Acho que a Sudene poderia retomar este papel de articular com os governos estaduais as obras de infraestrutura importantes que podem consolidar o desenvolvimento regional.
PERGUNTA - É o momento mais importante da carreira polÃtica?
FBC - Com certeza. Estou há 30 anos na vida pública. Servi a Pernambuco, à minha região, ao meu municÃpio como prefeito, como deputado estadual, como deputado federal. E agora estou merecendo a confiança da presidente Dilma Rousseff para servir ao Brasil.
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