Emoção no Teatro Santa Isabel

Por Isabelle Barros
Postagem: Gabriel Diniz

A memória afetiva de muita gente foi generosa com “O Barbeiro de Sevilha”, ópera que teve a primeira de suas cinco récitas realizada ontem, no Teatro de Santa Isabel. A encenação escolhida pela Companhia Brasileira de Ópera a fim de começar suas atividades evoca continuamente a lembrança de personagens como Pernalonga e o Pica-Pau, que eternizaram a obra de Gioacchino Rossini em desenhos clássicos como “O Coelho de Sevilha”. Isso acontece não apenas pelo suporte escolhido pelo grupo paulista - o desenho animado -, mas também por imprimir um espírito maroto à montagem, atualizando-a com referências pop.

A história é simples: em Sevilha, o Conde de Almaviva ten­ta conquistar uma jovem chamada Rosina, mas tem como obstáculo o tutor dela, Dr. Bartolo, que também deseja se casar com sua pupila. O nobre procura Fígaro para ajudá-lo e, a partir daí, surgem a maioria das situações engraçadas da trama, potencializadas pela projeção. As licenças tiradas pela montagem beiram o nonsense e incluem Darth Vader, discos voadores, guitarras e até uma caracterização hippie.

No entanto, transformar “O Barbeiro de Sevilha” em desenho animado implicou escolhas difíceis. Pelo menos nenhuma delas implicou em sacrifício na parte musical. Mesmo com sua fama de temperamental, a exigência técnica do diretor artístico da companhia, John Neschling, se fez sentir de forma positiva. A orquestra é irrepreensível, assim como o coro Collegium Musicum de São Paulo. Além disso, o talento dos solistas foi logo reconhecido. Ainda no início do primeiro ato, Fígaro (Sebastião Teixeira) foi aplaudido em cena aberta na ária “Largo Il Factotum”, que tem as famosas palavras “Fígaro, Fígaro, Fígaro”.

Talvez essa seja também a primeira ópera que tenha ostensivamente um “merchan” de um banco, cuja marca aparece em uma das paredes do “cenário” em desenho animado. E, por falar nele, ainda que a ópera funcione muito bem sem os cenários tradicionais, é inegável que a peça perde cenicamente com a falta de mobilidade dos atores, presos em suas marcações a fim de permitir que o desenho (adequadamente retrô no traço de Joshua Held) pontue as situações. Mesmo assim, isso não tira o brilho desse projeto ousado.

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