
Todos os dias, Joana da Silva*, 19, acorda, lava o rosto, coloca duas roupas em uma sacola e sai andando pelo Centro do Recife. Uma vida normal para milhares de moradores da Capital pernambucana que diariamente saem de casa para o trabalho. Só que Joana não trabalha, não estuda e não tem um lar fixo. Aliás, o lugar onde ela vive, uma pequena praça no Centro da cidade, virou sua residência fixa desde o começo do ano passado. Assim como ela, neste lugar, mais 15 jovens vivem em situação de risco e de drogas, expostos ao perigo e à violência inerentes à rua. Localizada em frente à Câmara de Vereadores do Recife, na rua do Hospício, a praça e essas pessoas parecem, muitas vezes, invisíveis a quem passa de carro, mas são, notadamente, evitadas pelos transeuntes.
O curioso do lugar é que há roupas e toalhas penduradas numa árvore, que funciona como um varal, além de três colchões, sendo um de casal e dois colchonetes na grama da praça, que vira cama para seis pessoas. Na rua, onde cada um vive por si, os jovens parecem se dar bem, unidos pela sensação da força de ser um grupo. Eles se conheceram na prórpia rua e formaram uma família pela convivência. Alguns até viraram casal. Joana é um exemplo. Pela necessidade, virou namorada de um rapaz de 20 anos, também morador de rua, o qual desconhece o nome, mas apenas chama de “Rato”. Às 8h de ontem, a maioria dormia e não se incomodava com o sol, nem com o barulho dos ônibus que passavam sem parar. Nos colchões, três filhotes de cães completam a “família” dos moradores de rua.
“Quando chove, a gente dorme embaixo das barracas e das paradas de ônibus. Moro na rua porque me sinto presa dentro de uma casa e me acostumei a viver assim, desde que saí de casa”, contou Joana. Parte do grupo, durante o dia, se dirige à Comunidade dos Pequenos Profetas (CPP), uma organização sem fins lucrativos que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Lá, eles participam de atividades, como oficinas e têm direito a três refeições diárias. Complementando esse trabalho, a Secretaria de Assistência Social da Prefeitura da Cidade do Recife, através do Instituto de Assistência Social e Cidadania (IASC), realiza um acompanhamento com esses jovens, na tentativa de reinseri-los no seio familiar.
Segundo a assessora executiva do IASC, Tereza Cavalcanti, muitos dos jovens que estão ali são acompanhados desde criança, mas não têm interesse de retornar às suas casas. “A maioria desses adolescentes tem vínculo familiar e nossos educadores sociais têm trabalhado para a reinserção deles nas comunidades de onde vieram. O maior problema que enfrentamos é que eles resistem a esse processo”, explicou. Segundo ela, nenhum destes jovens trabalha ou estuda, e, por isso, não estão inseridos em nenhum programa de políticas públicas. A reportagem da Folha de Pernambuco tentou entrar em contato com a Câmara de Vereadores do Recife para opinar sobre a presença dessas pessoas ao lado da sua sede. No entanto, a assessoria de imprensa do órgão informou que, por causa do recesso no qual se encontra, ninguém da Casa estaria disponível para falar.
Por Vanessa Araújo