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O SEGREDO


Maria Clara não era uma criança comum. Era especial, muito especial. Não possuía amigos, era calma, reservada, mas era dona de um sorriso e de alegria inigualáveis.

Filha única de fazendeiros, fora criada no meio dos animais. Todo o seu estudo foi realizado dentro daquele universo campestre. Os seus pais se preocupavam com o fato da menina crescer unicamente na companhia das empregadas, mas não tinham outra solução, pois a cidade era muito distante e eles não poderiam sair todos os dias para levá-la a um colégio, tão pouco deixar a criança nas mãos de estranhos para ser cuidada na cidade.

O que eles não entendiam era o motivo de tamanha alegria que aquela criança sentia. Tinha uma vida comum e sem outras crianças que pudessem brincar com ela, mas Maria Clara era feliz pois era dona de um grande segredo.

Os seus pais não sabiam, nínguem sabia, mas todas as noites ela recebia a visita de um amigo muito querido. Alguém que ela não sabia quem era, mas que todas as noites estava lá, ao lado de sua cama, segurando a sua mão. Não podia vê-lo, somente senti-lo. Não recordava o dia da sua primeira visita, mas sempre estivera ali, ao seu lado, segurando a sua mão. Sempre que se deitava, deixava a mão pra fora da cama, para que seu amigo invisível pudesse segurá-la. Era um toque mágico, angelical, nenhuma pessoa a tocara daquele jeito. Sentia-se segura com aquele amigo que sempre a protegia nas noites de tempestade, pois morria de medo dos trovões.

Os anos se passaram e a menina finalmente virou mulher. Mas todas as noites o seu amigo estava lá. Precisava ir para a cidade, fazer uma faculdade para ajudar aos pais que já estavam cansados. Ela foi, concluíu os seus estudos e conheceu um rapaz por quem se apaixonou.

Pouco tempo estavam casados e morando na fazenda, mas algo deixara Maria Clara muito triste. Não sabe ao certo, mas desde que casara o seu amigo havia sumido. Todas as noites colocava a mão para fora da cama, mas ele nunca estava lá. Havia desaparecido.

Nunca contou para os seus pais ou até mesmo para o seu marido, pois achava que nunca entederiam. Poderiam até mesmo achar que ela era maluca ou na melhor da hipóteses achar que tudo se passava de um sonho infantil. Bem, era o seu segredo, e segredo continuaria a ser.

Dois anos se passaram até que Maria Clara fosse mãe. Os dias corriam normamlmente e ela nem mais pensava no seu amigo de infância. Os problemas do dia-a-dia a fizeram mais racional, não esquecera das suas noites, mas havia guardado as recordações lá no fundo e já não pensava mais nelas. Sua filha estava crescendo depressa, era uma bela menina, travêssa e com uma alegria de viver que só se comparava a sua quando criança.

Certa noite, foram todos dormir mais cedo, pois chovia muito e a tempestade a cada hora piorava. Maria Clara colocou a sua filha para dormir e depois foi deitar-se com o seu marido. Na alta noite, os trovões e relâmpagos eram tão fortes, que acordaram toda a casa. Maria Clara continuava deitada e de olhos bem fechados, pois mesmo adulta, não perdera o medo das tempestades. Quando já estava quase dormindo um trovão muito forte a assustou e numa reação involuntária, colocou a sua mão para fora da cama.

Nesse momento algo surpreendente aconteceu. Mais uma vez, ela sentira aquela mão delicada a tocar a sua, aquele toque que ela sabia muito bem de quem era e que por muitos anos a protegera de todos os seus medos. Sim, tinha certeza, era o seu amigo querido que voltara para protegê-la novamente. Abriu os olhos e olhou para o lado para tentar vê-lo, mas o que viu a deixou espantada. Na mesma hora, as lágrimas começaram a lhe imundar os olhos pois tratava-se da sua filha.

Não acreditava no que estava vendo, mas tinha certeza, aquele toque só podia ser dele! Não existia outro igual. Olhou nos olhos dela e teve a certeza de que realmente era o seu amigo. A menina segurava a sua mão e sorria, pois inconscientemente sabia quem era e demonstrava saber. O segredo agora não era só seu. Havia mais alguém que o compartilhava.

Mãe e filha estavam ali, uma diante da outra, novamente a se tocar, a se proteger, acabavam de se reencontrar, como já haviam prometido em um outro lugar, há muitos e muitos anos...

Por Cynthia Carvalho
Foto: Roberto Beltrão

Publicado no ASSOMBLOG

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