A MORTE DO LEÃO LIBERAL

As bandeiras americanas ondulam a meia haste por todos os Estados Unidos em homenagem a Edward Kennedy, o "leão liberal do Senado", que sucumbiu a um cancro cerebral aos 77 anos de idade. "Um líder extraordinário e o maior senador de todos os tempos", disse ontem o Presidente, Barack Obama, que interrompeu as férias para comentar a perda do seu amigo e aliado político."Para a sua família, ele era o guardião; para a América, ele era o defensor do sonho", resumiu o Presidente, sublinhando que as ideias e ideais de Kennedy "estão estampadas em centenas de leis e reflectem-se em milhões de vidas: seniores que conhecem uma nova dignidade, famílias a quem foi dada uma nova oportunidade, crianças que gozam da promessa da educação e todos aqueles que podem perseguir os seus sonhos numa América mais justa", declarou Obama.
"Incluindo eu próprio."Exactamente há um ano, Edward - Ted - Kennedy estava no palco da Convenção Nacional Democrata em Denver, elogiando o então candidato Obama e antecipando a sua vitória nas presidenciais. Na dura luta pela nomeação democrata, o apoio de Kennedy fora instrumental e decisivo, no momento mais crítico do duelo entre Obama e Hillary Clinton."Nada, nada me impediria de estar presente nesta reunião tão especial", bradara um já debilitado Kennedy em Denver, três meses depois de lhe ter sido diagnosticado um tumor na cabeça, um inoperável e incurável glioma maligno no lóbulo parietal esquerdo do cérebro.Mas Kennedy - cuja vida ficou marcada por devastadoras tragédias privadas e impressionantes vitórias públicas - já não estará presente na votação da proposta de reforma do sistema de saúde, a principal causa da sua intervenção política de 46 anos no Senado, ao serviço do seu estado natal do Massachusetts.Com a mesma inteligência e paixão com que os seus malogrados irmãos John e Robert se bateram pelo fim da segregação racial e por direitos civis para todos os americanos, Edward, o "herdeiro de Camelot", devotou o seu combate à eliminação da pobreza, iliteracia e marginalização e à cobertura universal dos cuidados médicos.
Ainda é o seu nome que figura no topo do rascunho da reforma que o Presidente classificou como a sua principal prioridade legislativa e que o Congresso está a negociar. O debate caiu num impasse que parece difícil de resolver - e, como admitiam ontem democratas e republicanos, esse facto deve-se em parte à ausência de Kennedy.
A sua morte poderá influenciar o tom do debate à volta do tema, que no último mês se tornou progressivamente mais tóxico e poderá agora tornar-se mais tranquilo e racional, mas dificilmente contribuirá para atenuar as resistências dentro da sua própria bancada democrata ou superar a profunda divisão face aos adversários republicanos. Consciente do seu papel, Ted Kennedy fez uma derradeira tentativa para assegurar que o seu voto garantiria a maioria necessária para aprovar a reforma: na semana passada, escreveu ao governador do Massachusetts, Deval Patrick, sugerindo a nomeação extraordinária de um substituto que ocupasse o seu lugar nos cinco meses que demora a eleição de um novo senador.
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