Mais um caso de atitude racista envolvendo a Casa dos Frios


Uma servidora pública do governo de Pernambuco prestou queixa, nesta terça (3), contra um vigilante que trabalha na Casa dos Frios, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.

Gilvaneide Araújo afirmou que o profissional de segurança praticou uma atitude racista, a “perseguiu” durante as compras e ainda ameaçou chamar a polícia. “Eu sou negra, mas não sou ladra”, afirmou.

O caso aconteceu por volta das 16h30 e foi registrado na delegacia do bairro, no início da noite. O boletim aponta uma ocorrência culposa e consumada. O nome do segurança não foi informado.

Responsável pela entidade Casa das Marias, que acolhe pessoas pobres em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, Gilvaneide gravou um vídeo logo depois de sair da loja de alimentos.

Na gravação, ela diz que entrou na loja para fazer compras. “Eles acharam que eu sou negra, que eu sou negra que eu estava roubando. Que eu queria alguma coisa deles. Eu sofri racismo agora a pouco. Isso não se faz", afirmou.

No vídeo, muito revoltada e chorando, ela disse que tudo aconteceu por causa de uma garrafa de água mineral.

“Paguei essa água ó, eu paguei essa água, eu paguei R$ 122 lá dentro da loja, eu não queria roubar nada de ninguém não”, declarou.

Em entrevista, a funcionária pública do Hemocentro de Pernambuco (Hemope) contou como tudo aconteceu.

Ela relatou ter saído de um shopping, também na Zona Sul, e decidido parar na Casa dos Frios para comprar salgados para a neta dela.

“Peguei um táxi e pedi para ele parar lá. Comprei várias coisas e ia entrar no carro para ir para casa. Estava muito feliz. Tinha comprado uma passagem para viajar para Salvador (BA). Estava meio distraída e lembrei da água. Tenho que tomar por causa da hipertensão”, afirmou

Quando voltou para a loja para pegar a água, Gilvaneide disse ter sido abordada pelo segurança. Ela afirmou que ele “era moreno e muito grande, parecendo um armário”.

“Ele me disse que pegaria a água para mim. Achei uma gentileza da parte dele. Só fui notar o problema quando entrei no carro e o taxista estava revoltado e me alertou. Disse que o segurança estava me perseguindo”, contou.

Diante disso, a funcionária pública decidiu entrar na loja para falar com o segurança. "Eu perguntei o que ele estava fazendo. Disse que o taxista tinha me alertado que ele estava me vigiando na loja. Ele disse, nesse momento, que ia chamar a polícia”, declarou.

A servidora pública disse que ficou indignada e gravou o vídeo. Depois, foi com familiares até a delegacia para prestar queixa. “Eu ia ser presa por causa de uma água de R$ 10. Meus vizinhos estão revoltados também”, afirmou.

O caso foi narrado também pelo taxista Mathias Ferreira. Ele contou que acompanhou “toda a movimentação de perseguição do segurança da loja”.

“Ele ficou de plantão numa postura de autoridade acompanhando toda a movimentação dela. Outros carros chegaram, outros clientes entraram na loja, mas o segurança não parava de acompanhar a minha cliente”, afirmou.

Ferreira disse, ainda, que o segurança “ficava olhando pra ela e também para mim, que sou um homem negro, todo desconfiado”.

O motorista lembrou que quando Gilvaneide estava deixando a loja, “ele veio atrás e ficou olhando a sacola dela de forma muito estranha”.

“Eu me incomodei muito com a atitude desse segurança. Ele ficava olhando a sacola dela o tempo todo. Fomos falar com o segurança e ele disse que ia chamar a polícia para a gente. Eu disse que nós é quem devíamos chamar a polícia porque ele foi racista com a dona Gilvaneide”, declarou.

A Casa dos Frios, até o fechamento desta matéria não se pronunciou sobre o caso.

Por Thiago Augustto e Ricardo Novelino

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