Rodízio de carros pode gerar efeito reverso no Recife

Por Pierre Lucena
Do Acerto de Contas

Nesta quinta-feira a Câmara Municipal irá votar o projeto de lei que trata do rodízio de carros em determinados horários nas ruas do Recife. A Prefeitura chama de restrição, mas é exatamente a mesma coisa.

A ideia já foi discutida por mim no Acerto de Contas, em um post feito logo no anúncio da medida.

A princípio não consigo ser contrário à restrição do uso de automóveis, mas tentando olhar de outra forma, fica difícil encontrar alguma razoabilidade na medida implantada pela Prefeitura.

Fala-se de uma restrição de horários. Neste caso, quem tem carro de placa ímpar fica impedido de circular em dia par, no horário das 6:30 às 8:30h. (ou 9:00h., ainda não se sabe ao certo), e das 17:00h. às 19:00h.

A experiência deste sistema de rodízio tem se mostrado um fracasso onde foi implantado. O de Recife é muito severo mas ainda possibilita alguma acomodação de horário. No meu caso, quando der aula às 8:00h. eu vou de busão sem problemas. Mas isto acontece no máximo duas vezes na semana.

Minha preocupação está em duas possíveis situações: um efeito reverso, aumentando a frota de veículos nas ruas e nas péssimas condições do transporte público.

No primeiro caso, imaginemos uma família com dois filhos já em idade adulta. A família tinha dois carros, utilizados pelo mais velhos. Os filhos utilizavam ônibus para seus deslocamentos durante o dia, inclusive para a escola.

A família pode muito bem optar por mais dois carros velhos, cada um custando no máximo R$ 10 mil.

O que aconteceria neste caso?

Cada filho teria um carro para utilizar pelas ruas no horário fora da restrição. Antes ia ao curso de inglês de ônibus, agora pode ir de carro.

Isso se aplica para uma família com apenas um carro, cujo chefe de família compraria um carro adicional.

Já em relação à minha segunda preocupação, a qualidade do transporte público, fico tentando imaginar como ficará o ônibus no horário do rush. Se tivéssemos um empresariado minimamente responsável, com certeza mais ônibus seriam adquiridos e a cidade mudaria de postura.

Mas bastou uma licitação para se montar um cartel contra o Governo.

Já em relação aos táxis, será praticamente impossível conseguir um no horário do rodízio.

O problema original está na absoluta desvalorização do transporte público. Sei que o BRT vai melhorar o sistema, mas ainda não temos nada.

Por que não pintar faixa exclusiva nos corredores com pelo menos três faixas?

Vamos a um exemplo. Você mora em Casa Forte, e imagine que a Rui Barbosa e Rosa e Silva possui duas faixas para carros e uma exclusiva para ônibus.

Como os carros iriam parar, você iria demorar duas horas para chegar na Agamenon. Já de ônibus chegaria em dez/quinze minutos.

Qual transporte você optaria?

A opção pelo tipo de transporte é cultural, mas também de otimização. Enquanto carros dividirem espaço nas ruas com ônibus, será fácil escolher.

Outra solução é a restrição de estacionamento nas ruas. Aparentemente se quer fazer isso com a licitação da PPP dos edifícios-garagem, mas até agora nem sinal deste processo.

Aparentemente vamos ter uma cidade bem melhor nas primeiras semanas do rodízio, mas temo que os efeitos no médio prazo sejam um verdadeiro desastre.

Isso sem falar na aplicação da lei, que não será fácil. Fico apenas imaginando alguém que está nas ruas às 16h. para uma visita a um cliente, e fica preso em um congestionamento.

Vai ter que parar na rua e ficar esperando até as 19 horas.

Não parece razoável.

Enquanto isso, a lei será aprovada sem nenhuma dificuldade na Câmara de Vereadores. Com 35 vereadores de situação, até agora apenas Raul Jungmann se colocou contra a proposta.

Mas este é o custo que se paga por viver em um lugar onde divergir parece um crime. Faz-se o que o Governo quer, independente do resultado.

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