O jovem Jefferson Vicente da Silva, 19 anos, personagem da matéria A sina dos corações doentes, publicada em 7 de outubro do ano passado pelo Jornal do Commercio, morreu às 13h de segunda-feira. Partiu numa infecção generalizada após ser, provavelmente, vítima de um sistema de saúde gratuito, universal, mas que não se comunica plenamente.
Cardiopata grave, recebeu o primeiro atendimento sábado à noite, numa UPA, foi mandado para casa, não conseguiu ser removido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no dia seguinte e chegou grave ao Procape, que o transferiu para a UTI do vizinho Hospital Universitário Oswaldo Cruz, onde faleceu de choque séptico.
“Meu filho tava tão feliz, ia participar da festa na igreja (evangélica) e de repente isso aconteceu”, conta a mãe Marineide Cabral da Silva, que trabalha de babá nos fins de semana. Segundo ela, na noite de sábado, o jovem começou a ter diarreia e vômitos, além de sentir uma dor forte no joelho direito. A família o levou à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá, onde ele recebeu soro e medicação. Melhorou e teve alta. Já em casa, na manhã do domingo, voltou a passar mal.
“Liguei para o Samu, falei com o médico, contei que meu filho era cardiopata e ele me desejou boa sorte. Disse que eu voltasse com ele para UPA, não ia mandar a ambulância”, conta. Parentes deitaram Jefferson numa cadeira de balanço e desceram a ladeira com ele. Pegaram um carro e foram ao Procape, na área central do Recife, onde o jovem vinha tratando a cardiopatia. “Jéfferson estava com infecção intestinal”, completa o pai, jardineiro desempregado Joselito Silva.
A luta de Jéfferson pela vida – foi ele quem procurou a reportagem durante produção de outra matéria no hospital – tinha rendido algumas mudanças recentemente. A partir da publicação da sua história pelo JC, o Ministério Público Federal exigiu que a Secretaria de Saúde do Recife fornecesse os remédios de que ele precisava (Caverdilol e Espironolactona). O Centro de Assistência Social da região conseguiu inclui-lo num benefício da Previdência e repassar vale-transporte. “Ele recebeu o primeiro benefício e neste segundo mês queria alugar uma casinha na parte baixa do bairro”, diz o pai.
Maria das Neves Dantas, cardiologista do Procape que acompanhava Jéfferson, espera que o irmão mais jovem, Jeremias, tenha outro futuro. “Com a medicação cobrada pelo Ministério Público, ele está cumprindo o tratamento e não precisou de nova internação.” Ela não examinou Jéfferson na última vez, mas explica que infecção em cardiopata evolui rápido e o coração debilitado não dá conta da sobrecarga.
Do JC /Foto: Rodrigo Lobo