Por Pierre Lucena
“Pompéia, minha velha, você tirou uma faixa do carro para dar às bicicletas. O pessoal que anda de bicicleta está nos morros. Aqui, não”, (JC Online).
Estas eram as palavras de ordem do carro de som que estava no protesto do MMH, o “Movimento da Mobilidade da Hilux”, que aconteceu hoje na Praça de Parnamirim.
Antes de se revoltar, saiba que sei que nem todo mundo ali pensa assim, mas o texto é dirigido aos que efetivamente acreditam que a ciclofaixa deva ser retirada.
Noves fora a justíssima cobrança por uma inversão de trânsito mal feita, muita gente que ali estava pensa realmente que o negócio é sair de casa no carro, com o ar-condicionado ligado, sem se dar conta que a cidade é feita de pessoas, e não de prédios e automóveis.
Essa é uma máxima de uma parte de nossa classe média, que acredita que bom mesmo é o modelo Moura Dubeux de se viver, em espigões com muros de 4 metros de altura, que separam o morador do pedestre.
Como se fossem pessoas diferentes.
Não se trata de luta de classes (sou contra estes conceitos), mas de vida em comunhão em uma metrópole.
O recifense precisa colocar uma coisa na cabeça: será preciso parar (isto mesmo, parar) de construir ruas e viadutos para automóveis. Todo o dinheiro disponível deve ser colocado na melhoria radical do transporte público.
Todo o dinheiro deve ser destinado a equipar ônibus (novos e com ar-condicionado), a criar corredores exclusivos de ônibus ou VLT (em ruas pequenas, tirando espaço dos carros), criando ciclofaixas, e por fim, tomando os estacionamentos nas ruas para o aumento das calçadas, que precisam ser reformadas.
Por que um bem privado (o automóvel) utiliza gratuitamente um espaço público (a rua) para sua guarda?
Que pague para isso.
A vida do motorista vai se transformar em um pesadelo?
É obvio que sim.
Andar de carro em Nova York (especialmente em Manhattan), em Londres e outras cidades é impossível.
Mas lá tem metrô decente, diz o MMH.
É verdade, mas uma hora isso precisa ser revertido.
E a hora é agora.
O argumento de alguns integrantes do MMH é feroz: “duvido que você deixe seu carro em casa”.
Respondo que quando preciso eu vou de carro, mas dado o problema da mobilidade e também o fato de que odeio dirigir, me mudei para o o Bairro da Boa Vista e me desloco na maioria das vezes à pé ou de táxi. Tenho sofrido com as péssimas calçadas, mas minha vida melhorou muito em relação a antes, quando passava 3 horas no carro nas ruas de Boa Viagem. Gastava R$ 400,00 de gasolina por mês e agora só gasto 1/4 disso.
E ao rapaz que aos berros bradava “Pompéia, minha velha, você tirou uma faixa do carro para dar às bicicletas. O pessoal que anda de bicicleta está nos morros. Aqui, não”, dou total razão, afinal lá em Casa Forte ninguém anda de bicicleta. E isso nos diz um pouco da péssima cidade em que vivemos, já que bicicleta parece ser transporte para pobre.
Na verdade, muita gente não percebe o quão pobre é…de espírito e de civilidade.