Por Janaína Carvalho
A atriz Carolina Dieckmann ficou muito satisfeita com a identificação rápida dos suspeitos de terem roubado e divulgado suas fotos na internet, afirmou ao G1 o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, na manhã desta segunda-feira (14). A polícia encontrou quatro suspeitos de terem roubado fotos íntimas do computador da atriz em março e depois as terem divulgado na internet, em 7 de maio, após tentativa de extorsão, conforme mostrou a reportagem do Fantástico.
De acordo com ele, a atriz elogiou a atuação e a seriedade do trabalho da polícia. "Ela estava tocando a vida dela, mas sempre preocupada com o processo. Agora, sem dúvida ela está mais tranquila. Fazer um enfrentamento desse e chegar aos responsáveis em uma semana é motivo de grande tranquilidade", destacou Kakay.
A primeira questão importante do caso, segundo ele, foi resolvida, que era a identificação dos suspeitos. Chegar à autoria desse crime, segundo Kakay, era o principal objetivo de Dieckmann. "Os próprios hackers gozavam da situação. Eles tinham certeza da impunidade", ressaltou Kakay, referindo ao trecho da conversa entre o grupo, que foi interceptada pela polícia.
"O trem ficou sério, hein? Em uns dias 'tá' a PF (Polícia Federal) interrogando a gente. Hehehe", riu o rapaz não identificado, que parecida duvidar que seria pego. "Vai dar nada, não", disse um dos suspeitos em um bate-papo na internet.
Formação de quadrilha
De acordo com Kakay, além dos três crimes pelos quais o grupo já deve responder, eles também deveriam ser indiciados por formação de quadrilha. "Além da extorsão, difamação e furto, a partir de ontem ficou caracterizado a formação de quadrilha. A partir do momento que eles se juntam para cometer diferentes crimes, também estão inseridos em formação de quadrilha", afirmou o advogado.
Um dos suspeitos, de acordo com Kakay, ainda poderia ter sido preso em flagrante, quando admitiu ter formatado o computador um dia antes da chegada da polícia a sua casa. "Chegaram na casa do Diego e ele tinha acabado de formatar o computador. Aquilo ali era motivo até para prisão em flagrante, pois estava interferindo na prova, estava destruindo a prova".
O advogado da atriz também fez questão de elogiar o trabalho da polícia e vem ao Rio nesta segunda-feira (14) para conversar com Dieckmann e aproveitar para agradecer pessoalmente o trabalho do delegado. "O trabalho do doutor Gilson Perdigão foi muito bem feito. Ontem (13), até conversei com a doutora Marta Rocha e também a cumprimentei pelo trabalho da equipe dela", concluiu Kakay.
Os suspeitos
De acordo com a investigação, hackers do interior de Minas Gerais e São Paulo invadiram o e-mail da atriz e pegaram as imagens. Isso descarta a suspeita inicial sobre funcionários de uma loja de assistência técnica no Rio de Janeirox onde Dieckmann havia deixado o laptop para consertar, há dois meses.
Um grupo especializado da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil do Rio, usou programas de contra-espionagem para chegar aos suspeitos. De acordo com a investigação, o roubo teria começado com um e-mail usado como isca (spam), que ao ser aberto liberou uma porta para a instalação de um programa que permitiu aos hackers entrarem no computador da atriz.
"A vítima fatalmente clicou nesse spam", explicou o delegado Rodrigo de Souza Valle. "Provavelmente ela deixou esse arquivo ser reenviado para o autor." Uma varredura feita no computador da atriz detectou que o invasor furtou, ao todo, 60 arquivos.
Suspeito formatou computador
O primeiro suspeito encontrado foi Diego Fernando Cruz, de 25 anos, que teria sido o primeiro a divulgar as fotos na internet. Com um mandado de busca e apreensão, os policias entraram no quarto dele, em Macatuba, no interior de São Paulo. No local, foram encontrados CDs, softwares e cinco computadores. Um laptop estava aberto em uma página só com fotos da atriz. Uma das pastas de arquivo estava nomeada como "Carola", mas a maioria dos arquivos tinha sido completamente apagada. "Formatei ontem", disse Diego.
Outros três rapazes estão entre os suspeitos. Um deles é menor de idade e teria sido o autor das ligações para chantagear a atriz, com o pedido de R$ 10 mil para que as fotos não fossem publicadas.
O principal suspeito de ter invadido o computador e furtado as fotos da atriz é Leonan Santos, de 20 anos. O jovem, que vive numa casa simples em Córrego Dantas, em Minas Gerais, contou que já é investigado em outra ação de hackers, que teriam desviado dinheiro de um banco pela internet, mas se disse inocente.
Pedro Henrique Mathias seria o dono do site que publicou as fotos. O quarto integrante não teve a identidade revelada pela polícia.
Os investigadores interceptaram uma troca de mensagens pela internet entre o grupo, em que Diego admite a divulgação das fotos: "Eu passei 'pro' cara na quinta (3) à noite. Ele pôs no site dele na sexta (4) de tarde. Na mesma hora estava em todos os jornais".
Em outro bate-papo, Diego diz a Pedro Henrique como teriam conseguido as fotos. "Foi apenas invasão de e-mail, não de PC (computador). Ela tinha que ter cuidado de apagar, né? Acho que ele pegou nos (itens) enviados dela."
Foi nas informações deixadas pelos próprios hackers nos acessos aos e-mails de Dieckmann que os investigadores encontraram uma espécie de impressão digital eletrônica (IP) dos suspeitos.
Nas conversas, Diego demonstra preocupação com a extorsão que Pedro Henrique demonstra não saber que havia acontecido. "A pena grave aí é essa extorsão. Isso aí eu nunca fiz", escreveu Diego. "Prevejo problemas. Viu o noticiário? Ela (Dieckmann) alega ter sido chantageada. Aí a coisa muda de figura", disse Pedro Henrique.
O grupo de hackers descobriu que era investigado e também falou sobre o assunto no bate-papo. "O trem ficou sério, hein? Em uns dias 'tá' a PF (Polícia Federal) interrogando a gente. Hehehe", riu o rapaz não identificado, que parecida duvidar que seria pego. "Vai dar nada, não."
Poucos dias depois, no entanto, a polícia chegou até os suspeitos. "Eles não esperavam que fossem ser pegos. Acreditavam que a polícia não teria recurso de detectar a ação", explicou o inspetor. "Deixaram rastro. Todo crime sempre tem um vestígio. Na internet não é diferente."
O Brasil não tem lei específica para crimes de informática. A Justiça se baseia no código penal e, no caso da atriz, os envolvidos serão indiciados por furto, extorsão qualificada e difamação, de acordo com a Polícia Civil.
O caso
Carolina Dieckmann procurou a polícia no dia 7 de maio, data do início das investigações comandadas pelo delegado Gilson Perdigão. Trinta e seis fotos pessoais da atriz foram publicadas na internet três dias antes, inclusive imagens ao lado do filho de 4 anos, o que, segundo Kakay, "agrava de forma substancial o crime".