Prédio do Cine Veneza, no Centro, está sendo reformado por ex-vendedor de confeitos que virou milionário
Por João Valadares
O Rei do Confeito, o cearense milionário José Gregório dos Santos, 71 anos, que vendia bombons em tabuleiro nos cinemas recifenses está bem pertinho de virar menino de novo. “Vou apontar para ele e dizer: tá vendo aquele edifício, moço. Fui que reformei.” O esqueleto de concreto que emociona o nosso personagem é o imóvel que abrigava o lendário Cinema Veneza, na Rua do Hospício, bairro da Boa Vista, fechado ao público em outubro de 1998. Em 2007, ele levantou o dedo, tirou R$ 305 mil do bolso e arrematou num leilão o espigão de 19 andares. Um ano depois, após uma negociação com o grupo carioca Severiano Ribeiro, desembolsou mais R$ 650 mil e comprou o imóvel anexo onde funcionava a sala de projeção. O homem simples, que utiliza um celular velho e mora na Avenida Boa Viagem, o metro quadrado mais caro do Recife, fala de milhão com naturalidade. Orgulha-se quando olha o patrimônio e diz que cursou só até a sexta série. É formado mesmo na universidade da vida. “Daqui a um ano, você faz minha foto bonita aqui na inauguração.”
Cada apartamento, com 78 metros quadrados, tem cozinha, banheiro social, sala, dois quartos e dependência para empregados. “Originalmente, eram dois apartamentos por andar. Estou diminuindo o tamanho deles e deixando quatro por andar. Será um prédio misto. Quem quiser alugar para fazer sala comercial não tem problema, mas acredito que grande parte dos apartamentos vai servir mesmo de moradia”, declara.
Ele já gastou R$ 2,5 milhões. “O investimento só na reforma é de R$ 8 milhões. Terei à disposição 76 apartamentos. Quem quiser comprar, eu vendo. Mas estou de olho nos estudantes das universidades mais populares que existem no Centro da cidade. O transporte público no Recife é caro e ruim. É bem melhor para os universitários morarem aqui, bem pertinho de onde vão estudar”, justifica.
O prédio anexo de três andares, onde funcionava o cinema, vai ser transformado numa grande galeria Pajé, famoso shopping popular de eletrônicos de São Paulo. “Vou colocar assim no letreiro: Recife também tem sua galeria Pajé”, diverte-se. Toda a parte externa do edifício está sendo revestida com cerâmica branca, amarela e vermelha.
O homem de roupas simples e relógio de ouro no pulso não para de falar um segundo. “Eu comecei vendendo confeito nos cinemas. Vim do Ceará para cá com 19 anos para tentar ganhar a vida. Eu não tinha nada. Era muito pobre. Fui vendendo as coisas e depois coloquei um comércio pequeno no Centro. Hoje, tenho uma imobiliária (Gkel GK empreendimento) e uma distribuidora de remédios.” Ele não diz, mas alguns amigos revelaram que o Rei do Confeito é dono de inúmeros imóveis na cidade do Recife. “Eu estou reformando esse prédio para a classe C. Quero que essas pessoas tenham condições de morar bem aqui no Centro.”
Há 12 anos, José Gregório foi sequestrado quando deixava o Armazém Cearense, um dos seus empreendimentos. Por isso, não quis ser fotografado. “Fui levado para a favela Rosa Selvagem (Imbiribeira). Passei nove dias acorrentado. Pediram R$ 2 milhões para me soltar. A sorte foi que eu perdi 11 quilos e a corrente que me prendia ficou frouxa. Consegui escapar e arrombei a porta do cativeiro. Eles atiraram muito, mas eu me joguei dentro de um buraco e escapei. Até hoje, faço fisioterapia porque quebrei um monte de osso”, diz.
O edifício Veneza pertencia ao patrimônio do Banco Econômico e encontrava-se inacabado e com boa parte da estrutura deteriorada. Um laudo técnico apontou a necessidade de recuperação estrutural do edifício. José Gregório pretende finalizar todas as intervenções em aproximadamente um ano.
No início do anos 90, o imóvel chegou a ser vendido, no entanto, o comprador não honrou o compromisso e o negócio acabou sendo desfeito. O Cinema Veneza foi inaugurado em dezembro de 1970 pelo Grupo Severiano Ribeiro.