País é inundado por um mar de lágrimas

Choro de multidão pela morte do ditador inspirou desconfiança  / AFP

Talvez o maior choque cultural ocorrido entre Oriente e Ocidente em relação à morte do ditador Kim Jong-il seja a reação da população da Coreia do Norte. Muitos analistas enxergam com desconfiança as imagens divulgadas pela TV estatal norte-coreana, com pessoas aos prantos nas ruas e praças de Pionguiangue.

Segundo o coordenador do laboratório de estudos da Ásia da USP, Angelo Segrillo, essas pessoas chorando são os equivalentes coreanos das chamadas carpideiras, pessoas contratadas para chorar em velórios. “Desertores norte-coreanos dizem que as autoridades ensaiam bem as pessoas que serão vistas em determinados locais, especialmente quando a televisão está presente”, conta Segrillo. Além disso, existe uma pressão da própria população. “Em que em uma situação em que todos deveriam chorar, não chorar pode ser passível de repressão”, completa.

Para o professor de ciências políticas da UFPE Michel Zaidan, as imagens mostram um misto de orfandade coletiva pelo desaparecimento do “Querido Líder” e de propaganda. “Deve haver sinceridade nessas lágrimas, mas elas devem estar sendo utilizadas propagandisticamente pelo regime”, afirma. A mitologia política, em regimes fechados como o da Coreia, tenderiam a produzir esses fenômenos de massa. “No Ocidente isso aconteceu no assassinato de John F. Kennedy e na morte de Tancredo Neves”, lembra.

Um dos poucos brasileiros que visitaram a Coreia do Norte, o jornalista Marcelo Abreu acha que é uma grande falta de compreensão do Ocidente questionar a tristeza do povo norte-coreano. “Por que os coreanos não podem sentir a falta de um líder, eles que foram educados no culto da personalidade desde bem pequenos e ainda por cima são herdeiros da tradição confucionista de respeito à autoridade? O choro é 99 por cento genuíno. E a turma do 1 por cento chora também, porque ninguém é bobo”.

Do JC

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