Por Cristano Ramos*
Tomei susto ao passar pelo ginásio de um colégio. Não sou pai, além do que meus alunos são todos de faculdade, gente feita (ou quase). Imagem que tinha de molecada batendo pelada era antiga. Vi seis meninos com camisas de clubes de fora, contra um só tricolor, baixinho e enfezado. Depois, olhei para a arquibancada, havia mais quatro com uniforme, só um rubro-negro colocava Pernambuco naquela estatística de fim de tarde.
Comecei a bater papo. Quase todos torcem para time pernambucano. Porém, apenas um disse não ter “segundo clube do coração”. Os outros começaram a falar do São Paulo, do Corinthians, do Barcelona... Sempre achei estranho esse negócio de segundo clube, mas, se existe gente com duas mulheres, duas identidades e até duas bolsas-famílias, como poderia cobrar algo dos garotos?
Comecei, então, a prestar mais atenção ao comportamento de nossos pequenos torcedores. Eles são chamados o tempo todo a aderirem a um time de fora do Estado: chegam da escola, e o programa de TV por assinatura só fala de clubes de lá; resolvem jogar no vídeo-game, mas quem escolhe Náutico ou Sport ali está afim de ter mais dificuldade para vencer; à noite, veem partida da Série A (onde, todos sabem, não estamos).
Na internet, nos fóruns e blogs nacionais, assumir que torce para agremiação pernambucana é, das duas, uma: motivo de piada, ou ficar de fora das principais discussões. Quando se empolgam com algum debate, geralmente é sobre o preconceito que o futebol nordestino sofre, sobre a diferença de recursos recebidos pelos clubes do Sul e Sudeste, a CBF, o Clube dos Treze blá, blá.
Tem outra: os pais desses meninos vêm de geração que assistiu à decadência das equipes locais, que já cresceu nessa indústria midiática que empurra para os times de fora. Na frente de um estádio, hoje, é bem menos frequente ver pais levando seus filhos. Os adolescentes que vão chegando estão sozinhos ou na companhia de outros.
As pesquisas comprovam essa gradual “invasão” dos clubes “estrangeiros” em Pernambuco. São números, no entanto, que poderiam ser bem piores, se as enquetes fizessem outras perguntas, como “você torce mesmo”, “vai ao estádio ou acompanha os jogos”, “sabe escalação do time”, “sofre quando perde”, “compra camisa oficial”, “torce também para outro clube”?
E o que tem isso? Talvez fosse bom lembrarmos que não existem agremiações sem torcedores – a não ser que consideremos aquelas que são bancadas por fábricas do interior de São Paulo, que vivem mudando de cidade, de nome, de cores. Discutir o assunto, buscar maneiras de os times conquistarem a meninada, de fazerem os pequenos vestirem mesmo nossas camisas, são fatores essenciais para melhoria do futebol pernambucano. Aliás, é importante para garantir um amanhã, para acreditar no agora, e para preservar o ontem. Nossas glórias e dramas passados são retratos cada vez mais amarelados, as pessoas falam em hexa, em penta, de supercampeonato, de 1987, mas são coisas jogadas no ar, sem muito o que dizer, maior parte cita sem fazer ideia do que se trata realmente cada um desses acontecimentos.
Nossos diretores precisam prestar mais atenção às redes sociais, às escolas, aos games, aos ginásios, aos campinhos, às ruas. Cada vez que passam por um moleque com camisa do Flamengo, por um guri que prefere o Grêmio, deviam sentir a grande perda! Desses pequenos e anônimos, depende o futebol do Estado. Melhor: depende o esporte pernambucano, pois, sem as agremiações, as atividades amadoras praticamente sumiriam.
Ao invés de distribuírem ingressos para torcidas organizadas e autoridades, por que não vão às escolas? Não só para dar bilhetes de entrada, mas para falar dos clubes, agendar visitas, acompanhá-los nos estádios. Absurda a proposta? Parece-me investimento, assim como o trabalho com as divisões de base. Futebol não se toca somente com renovação de jogadores. Multiplicar torcedores é tão importante quanto.
Qual plano de marketing verdadeiramente sério foi bolado para conquistar jovens torcedores? “Ah, mas campo não é mais ambiente para crianças”. Terrível, não? Que tomem providências! Mundo inteiro já registrou exemplos de que modificar essa cultura de violência é possível, experiências exitosas não faltam.
Povo que administra futebol pernambucano quer dar um presente no Dia das Crianças? Lembrar que elas existem, e que são mais valiosas que eles, seria ótimo começo.
Comecei, então, a prestar mais atenção ao comportamento de nossos pequenos torcedores. Eles são chamados o tempo todo a aderirem a um time de fora do Estado: chegam da escola, e o programa de TV por assinatura só fala de clubes de lá; resolvem jogar no vídeo-game, mas quem escolhe Náutico ou Sport ali está afim de ter mais dificuldade para vencer; à noite, veem partida da Série A (onde, todos sabem, não estamos).
Na internet, nos fóruns e blogs nacionais, assumir que torce para agremiação pernambucana é, das duas, uma: motivo de piada, ou ficar de fora das principais discussões. Quando se empolgam com algum debate, geralmente é sobre o preconceito que o futebol nordestino sofre, sobre a diferença de recursos recebidos pelos clubes do Sul e Sudeste, a CBF, o Clube dos Treze blá, blá.
Tem outra: os pais desses meninos vêm de geração que assistiu à decadência das equipes locais, que já cresceu nessa indústria midiática que empurra para os times de fora. Na frente de um estádio, hoje, é bem menos frequente ver pais levando seus filhos. Os adolescentes que vão chegando estão sozinhos ou na companhia de outros.
As pesquisas comprovam essa gradual “invasão” dos clubes “estrangeiros” em Pernambuco. São números, no entanto, que poderiam ser bem piores, se as enquetes fizessem outras perguntas, como “você torce mesmo”, “vai ao estádio ou acompanha os jogos”, “sabe escalação do time”, “sofre quando perde”, “compra camisa oficial”, “torce também para outro clube”?
E o que tem isso? Talvez fosse bom lembrarmos que não existem agremiações sem torcedores – a não ser que consideremos aquelas que são bancadas por fábricas do interior de São Paulo, que vivem mudando de cidade, de nome, de cores. Discutir o assunto, buscar maneiras de os times conquistarem a meninada, de fazerem os pequenos vestirem mesmo nossas camisas, são fatores essenciais para melhoria do futebol pernambucano. Aliás, é importante para garantir um amanhã, para acreditar no agora, e para preservar o ontem. Nossas glórias e dramas passados são retratos cada vez mais amarelados, as pessoas falam em hexa, em penta, de supercampeonato, de 1987, mas são coisas jogadas no ar, sem muito o que dizer, maior parte cita sem fazer ideia do que se trata realmente cada um desses acontecimentos.
Nossos diretores precisam prestar mais atenção às redes sociais, às escolas, aos games, aos ginásios, aos campinhos, às ruas. Cada vez que passam por um moleque com camisa do Flamengo, por um guri que prefere o Grêmio, deviam sentir a grande perda! Desses pequenos e anônimos, depende o futebol do Estado. Melhor: depende o esporte pernambucano, pois, sem as agremiações, as atividades amadoras praticamente sumiriam.
Ao invés de distribuírem ingressos para torcidas organizadas e autoridades, por que não vão às escolas? Não só para dar bilhetes de entrada, mas para falar dos clubes, agendar visitas, acompanhá-los nos estádios. Absurda a proposta? Parece-me investimento, assim como o trabalho com as divisões de base. Futebol não se toca somente com renovação de jogadores. Multiplicar torcedores é tão importante quanto.
Qual plano de marketing verdadeiramente sério foi bolado para conquistar jovens torcedores? “Ah, mas campo não é mais ambiente para crianças”. Terrível, não? Que tomem providências! Mundo inteiro já registrou exemplos de que modificar essa cultura de violência é possível, experiências exitosas não faltam.
Povo que administra futebol pernambucano quer dar um presente no Dia das Crianças? Lembrar que elas existem, e que são mais valiosas que eles, seria ótimo começo.
Cristiano Ramos é jornalista e assina a coluna Na Diagonal.