“O povo do Recife não quer mais João da Costa”

Por Manoel Guimarães
 
Entrevista: Eduardo da Fonte, deputado federal

Segundo deputado federal mais votado em Pernambuco (330.520 votos) e no Recife (58.442) no ano passado, Eduardo da Fonte (PP) tem trabalhado nos bastidores por uma eventual candidatura à Prefeitura da Capital em 2012. Presidente estadual de seu partido, ele defende um entendimento entre todas as forças que vão de encontro com a gestão do prefeito João da Costa (PT). “O povo do Recife não quer mais o prefeito João da Costa. Não vamos apoiá-lo em nenhuma hipótese”, enfatiza o progressista. Embora integre a Frente Popular de Pernambuco, o parlamentar sugere ao grupo discutir a estratégia de múltiplas candidaturas, e atribui ao governador Eduardo Campos (PSB) a tarefa de “condutor maior” do processo no ano que vem. “Meu nome está à disposição da Frente Popular e de todos que entendam que o Recife merece mudar”, crava Eduardo da Fonte.

O senhor está costurando uma possível candidatura do PP à Prefeitura do Recife. Como estão as conversas?
Nós estamos construindo. Sabemos que uma candidatura majoritária não depende apenas da vontade individual do nosso partido, mas sim de um conjunto de forças políticas que a gente consiga aglutinar em torno desta proposta. Te­mos conversado bastante com alguns partidos, inclusive com o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. Acredito que temos boas possibilidades de fazer um entendimento mais adiante.

O PSDB está na Mesa da Unidade da oposição, e já colocou como possíveis candidatos Raul Jungmann (PPS), Daniel Coelho (PV) e os tucanos Bruno Araújo e Aline Mariano. Es­­sa aliança PP-PSDB é possível?
Nós defendemos uma candidatura que consiga reunir con­dições de ganhar a eleição. Não quer dizer que o candidato terá que ser eu. É importante que a gente consiga escolher um candidato com chances reais de ganhar a eleição. Não existe mais espaço para candidatura que não tenha chances reais. É isso que a gente tem conversado, tem buscado, aglutinar com partidos que não concordem com o modo que o Recife está sendo administrado.

O senhor só seria candidato para ganhar?
Eu serei candidato se conseguir reunir as condições políticas para ganhar a eleição. Tenho certeza que o povo do Recife quer uma mudança, não está concordando com a forma que o Recife está sendo administrado. A gente tem que ter uma administração que inove, que ouse, que trate a cidade do Recife da forma que ela deve ser tratada. Nós vamos com um projeto que represente a mudança. É isso que temos sentido nas ruas. O recifense quer mudança na forma de administrar. Não vamos apoiar o prefeito em nenhuma hipótese.

O senhor foi o segundo deputado federal mais votado no Estado e no Recife. Esses números não lhe colocam à frente dos demais pré-candidatos?
Isso nos ajuda bastante, porque mostra a identificação que o eleitor recifense teve com o nosso trabalho na Câmara Federal. Mas o que a gente precisa é aglutinar o conjunto de forças políticas que nos dê condições de disputar a eleição, para que possamos mostrar nossas propostas ao eleitor. Agora é uma eleição para prefeito, e o Recife precisa rapidamente de propostas concretas, eficazes e que sejam pos­síveis de executar. A gente vê problemas gravíssimos que a atual gestão não está conseguindo superar, e temos que encontrar soluções rápidas e concretas para esses problemas, como o trânsito, os alaga­mentos que ocorrem quando as chuvas chegam e que mostraram o caos que a cidade se encontra. Por isso, temos que juntar esse conjunto de forças para apresentar soluções para questões que a cidade está sofrendo.

Se confirmada, sua candidatura seria precursora do tão especulado racha na Frente Popular?
Eu separo bem a questão estadual da municipal. Nós não fomos com João da Costa em 2008 e não iremos em 2012. No entanto, fomos com Eduardo Campos em 2006 e em 2010. Uma coisa não tem a ver com a outra. Somos da base do governador e vamos permanecer nela. Mas tivemos uma posição em 2008 já de não irmos com o prefeito João da Costa. Tenho certeza que isso não interfere nesses campos.

O PP só sairá com candidatura própria se tiver o apoio do governador?
Não deixarei com que isso interfira. O PP terá uma candidatura ou fará parte de um projeto que vá justamente de encontro à atual gestão. O PP tem um projeto e estamos trabalhando nele. Vamos continuar avançando, planejando o Recife para que possamos apresentar propostas adequadas para solucionar os problemas da cidade. Entendemos que o Recife precisa de gestão, precisa de um prefeito que tenha firmeza para tomar as decisões e que mude a forma que a cidade está sendo administrada. A gente entende e tem convicção que o Recife quer mudança. O Recife não quer mais ser administrado pela atual gestão. Quer uma nova forma de administração.

Não quer mais o PT?
Não quer mais o prefeito João da Costa. A forma de administrar do prefeito está reprovada pela maioria da população. O que o recifense quer é uma alternativa de gestão que consiga resolver os problemas que a cidade encontra hoje no seu dia a dia.

Se o ex-prefeito João Paulo (PT) entrar na disputa, o jogo muda e o senhor passaria a apoiar o PT?
Aí é uma questão que a gente tem que analisar quando ela acontecer. Isso é um fato que a gente não pode tratar, porque até agora não é um fato real. Mas, sem dúvida, se ele não for candidato, será um dos maiores eleitores de 2012. Não estou condenando a forma de o PT administrar. Estou condenando a forma de o prefeito administrar. Não é o partido, e sim o atual prefeito. A gente vê que falta pulso, falta iniciativa, falta gestão. Não tivemos até hoje nenhum prefeito ruim na cida­de do Recife. O primeiro que estamos vendo é o atual prefeito. Está faltando gestão, pulso para administrar o Recife.

O senhor tem conversado com o PSDB. E o DEM, PMDB, PPS e PMN também interessam ao PP?
Eu defendo justamente um entendimento de todas as forças que vão de encontro com a atual gestão. É importante que a gente consolide um discurso de mudança. Não apenas dizendo que vamos mudar, mas sim o que nós vamos mudar, o que vamos apresentar para solucionar os problemas. Acredito que todos que estejam com o mesmo pensamento de apresentar uma alternativa viável para o Recife sentem à mesa, discutam, e a gente avalie quem é o candidato que consegue reunir melhores condições de ganhar a eleição.

O senhor tem mantido contato com suas bases após a eleição do ano passado? O que eles têm lhe trasmitido?
Percorri na última campanha cerca de 150 municípios, fiz caminhadas permanentes. Todo fim de semana visito algumas bases, inclusive no Recife. Estou na rua permanentemente. Quando estou em Pernambuco, estou visitando minhas bases e em contato direto com os eleitores. Senão, não teria uma votação como na última eleição. Por onde ando, tenho recebido pedidos de várias pessoas, dizendo que temos que mudar a atual gestão e sermos candidatos. Gosto muito do termômetro das ruas. Tenho andado no Centro, nos bairros do Bongi, Mustardinha, Casa Amarela, vou todos os domingos ao Morro da Conceição. Estou permanentemente nas ruas, junto com o eleitor. E a gente vê a necessidade de mudança na forma de administrar o Recife

Quem deve ser o condutor do processo em 2012?
Na verdade, eu separo bastante. O governador sem dúvida é o maior condutor deste pro­cesso. Não vejo João da Cos­ta como condutor deste pro­cesso. Ele deve ser candidato, não condutor. Ele tem que passar pelo crivo do partido dele. Ele é um candidato que não tem unanimidade nem dentro do próprio partido. En­tão, ele tem que resolver o problema interno para depois enfrentar os problemas externos.

A estratégia de Frente Popular deve ser de múltiplas candidaturas?
É importante que isso seja discutido pela Frente. Não pos­so falar individualmente. Mas é importante que a gente tenha identificado a importância dessa decisão da Frente. Não falarei sem a Frente se reunir.

Mas esta estratégia não poderia gerar um racha para a eleição de 2014?
Vejo que a gente tem que resolver cada questão ao seu tempo. A questão agora é 2012, e eu entendo que os partidos têm autonomia de lançar seus candidatos. Não é porque o PT está à frente da gestão que nenhum outro partido da base do governador Eduardo Campos não deve lançar candidato. Cada partido tem autonomia para lançar o seu candidato ou apoiar aquele que achar que reúne as melhores condições da cidade do Recife.

O seu nome está colocado para a Frente Popular?
Meu nome está à disposição da Frente Popular e de todos que entendam que o Recife merece mudar. Primeiro a gente tem que resolver problemas críticos da cidade, com alternativas viáveis. A principal bandeira é justamente a mudança que o Recife precisa para ser administrado. A gente tem que ter uma gestão eficiente, atuante, que resolva os problemas da cidade. A gente tem que ter coragem para poder administrar a Cidade do Recife. Não podemos baixar a cabeça como a atual administração vem baixando para questões fundamentais, como o deficit habitacional da cidade, o zoneamento da cidade, onde a gente não pode admitir uma rua onde tinham 100 casas hoje ter 30 prédios, inviabilizando completamente. Tem que se discutir is­so de forma muito clara com a so­ciedade, porque o que esta­mos vendo é um inchaço que causa todos esses problemas.

Tem feito pesquisas?
Fiz pesquisa qualitativa. Não fiz quantitativa, porque acho que a melhor pesquisa foi o resultado das urnas em 2010. Não tem fato novo que tenha mudado a vontade do eleitor. O que a gente avalia, nessas pesquisas qualitativas, é justamente a necessidade de mudar a forma de administrar o Recife. O eleitor nos conhece com boas perspectivas, com determinação, vontade de trabalhar. E é o que o Recife precisa, de muito trabalho. Tenho certeza que reúno essas características, vontade de trabalhar e mudar a forma da gestão que o Recife tem hoje, e justamente discutindo com a população presente nas ruas. E principalmente mostrando soluções possíveis de serem executadas. Não podemos dizer que vamos resolver o problema do dia para a noite. O que a gente tem que ter é um planejamento, pensar a cidade do Recife a curto, médio e longo prazo, para que a gente consiga com isso resolver os gargalos da cidade, que não são poucos.

Houve alguns problemas no PP nacional, principalmente ligados ao Ministério das Cidades...

O que houve foi justamente darmos oportunidade a novos deputados de participarem das decisões do partido. Nosso partido só se reuniu uma vez na gestão do líder anterior (Nel­son Meurer/PR), em sete meses. O que a gente está bus­cando é justamente oxigenar as lideranças do partido, reunir a bancada para discutir os temas importantes para o nosso País, e fazer com que todos os deputados tenham a mesma condição de trabalho dentro do PP. O ministério é uma questão externa da Câmara. O que a gente está trabalhando é a questão interna. Tivemos questões importantes, como a votação do Código Florestal, e o partido não se reuniu para discutir seu posicionamento, assim como em outras votações. Isso que nos levou a trocar de líder, para que o partido tenha o seu papel dentro da Câmara. Somos 41 deputados, a quarta maior bancada. Temos um novo desafio pela frente. Tenho certeza de que o líder Aguinaldo Ribeiro (PB) vai conduzir todas as questões reunindo a bancada, discutindo com todos os deputados, e foi isso que aconteceu na Câmara nesta mudança de líder.

O ministro Mário Negromonte chegou a culpar o ex-ministro Márcio Fortes por um ambiente ruim no partido.
Quem vai tratar do assunto do ministério, da interlocução com o Governo Federal, é o presidente do partido, Francisco Dornelles, e o nosso líder, Aguinaldo Ribeiro. O que a gente tem trabalhado na Câmara é o alinhamento com o Governo. Trabalharemos permanentemente a favor da governabilidade. Mário tem boa relação com todos os deputados. Mas a questão que entrou em pauta foi a liderança, não foi o ministério. Talvez essa tentativa de interferência tenha atrapalhado um pouco. Mas o que a gente está convicto é do alinhamento com o Governo, e iremos seguir todas as orientação da presidente Dilma.

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