Por José Teles
Antes de voltar a ser virgem, nos anos 50, nas comédias adocicadas, e deliciosas, de Hollywood, comTony Curtis e Rock Hudson, Doris Mary Ann von Kappelhoff, ou melhor, Doris Day, foi da pá virada. Caiu na estrada adolescente, casou-se com uma meia dúzia de malas, foi crooner de big bands fantásticas, como a orquestra de Les Brown, pela qual gravou uma insuperável versão de Sentimental journey.
Numa época em que as cantoras negras pontificavam, foi uma das grandes cantoras branquelas. Dicção perfeita, emissão pequena, sem vibrato, e um repertório quase sempre no ponto (com as concessões que poderiam ter sido evitadas, feito Tunnel of love, a Túnel do amor, na versão gravada por Celly Campelo)
Aos 87 anos, Doris Day volta ao disco, com My heart, uma coletânea de gravações remasterizadas, mais algumas recentes e inéditas. Doris Day não se ateve ao passado (seu primeiro hit, a citada Sentimental Journey, é de 1945). Ela gravou canções recentes, ma non troppo, dos Beach Boys e do Lovin’ Spoonful, ambas produzidas por seu filho, o produtor Terry Melcher (falecido em 2004).
Melcher era quem os malucos da família Manson queriam, quando trucidaram Sharon Stone (então mulher de Roman Polanski) e seus hóspedes, numa mansão em Los Angeles. Terry Melcher era o dono na casa, onde vivia com a namorada, a atriz Candice Bergen. Ele viajou e alugou a casa ao polonês Roman Polanski. Meses antes, Melcher recusou-se a produzir um disco de Charles Manson. Foi a deixa para o massacre, que virou livro, filme, mil ensaios, e foi o início do fim da Era de Aquarius.
Mas Doris Day não tem nada com isso. Se o carioca Roberto Silva manda ver samba no pé aos 91 anos, por que Doris Day não pode ir de swing aos 87? My heart chega às lojas no dia 5 de setembro, vale a pena conferir.
