A sensação de que não há mais nada a ser feito é o que paira na cabeça de recifenses e olindenses. Ontem, no primeiro dia do inverno - estação mais chuvosa do ano - o inverno - as pessoas já imaginavam a situação que iria instalar-se nos próximos dias: ruas alagadas, engarrafamento e complicações para sair de casa. A cidade do Recife apresentava sinais de alagamento; contudo, Olinda foi a mais afetada.
No bairro dos Bultrins, Olinda, a situação era péssima. Para alguns moradores, a solução era “enfrentar” a água. A necessidade obrigava o montador Cristiano Félix Sobrinho, 37, a passar pela água, que já estava na altura do seu joelho. “Vou trabalhar, então, tive que passar por esse ‘rio’. No período de São João, chove muito. Nem adianta fazer muita coisa”, disse.
Houve, ainda, carros que tentassem subir o meio-fio ou pegar a contramão, a fim de fugir do alagamento que permeava as avenidas Chico Science e Carlos de Lima Cavalcanti. Os carros pequenos, por sua vez, acabavam quebrando e os motoristas contavam com a ajuda de moradores para darem “aquele empurrãozinho”.
O risco de passar pela água, no entanto, não foi unânime. O biscateiro Luiz Carlos, 30, já estava, há duas horas e meia, sentado em um banco de cimento, na rodovia PE-15 e não tinha previsão de sair do local. “Era para eu estar lá perto do (cemitério) Morada da Paz, mas, não vou arriscar minha vida. Teve outra vez que fui tentar passar e caí. Já vi moto, carro e até caminhão quebrarem. O pessoal tenta passar, mas nem todo mundo consegue”, contou.
Foi o caso do motorista Carlos Henrique Ferreira, 42. “Já é a terceira vez que minha moto quebra por causa da chuva. Fazer o quê? Tenho que trabalhar”, justificou.
Ainda nesta rodovia, o engarrafamento também era intenso. Em média, dois quilômetros, desde a Cidade Tabajara até à PE-15, estavam consgestionados. Para que os carros andassem, era preciso passar pela água acumulada.
Já no Recife, a solução para trafegar pelas avenidas Recife e Mascarenhas de Moraes era aproximar-se do meio-fio. Desta forma, os veículos só tinham condições de utilizar uma faixa. Na BR-101 Norte, na Caxangá, o trânsito ficou lento.
O comércio também ficou prejudicado com as chuvas intensas. Funcionários de uma oficina da avenida Mascarenhas de Moraes, por exemplo, tiveram que tirar a água de dentro do estabelecimento. “A gente tira um pouquinho, mas enche de novo. Além disso, o movimento diminui muito. Normalmente, a gente recebe 30 carros. Quando chove, essa número cai para dez”, informou a funcionária Cassandra Nascimento, 22.
Em meio à situação negativa para muitos, houve quem soubesse tirar proveito das chuvas. Devido ao nível da água empoçada nas ruas, as placas e peças dos veículos acabavam sendo perdidas. Com isto, moradores do bairro de Areias, no Recife, instalaram-se em lugares estratégicos, como a avenida Doutor José Rufino para procurar o material perdido.
“Moro aqui perto, então, quando estou sem nada para fazer e começa a chover, venho para cá pegar as placas. Os motoristas, quando percebem que perderam (a placa), voltam aqui e dão um ‘agrado’ a gente”, contou o pintor Gilson Pereira, 27. Ainda conforme o rapaz, ele consegue arrecadar R$ 80 em cada dia com chuva.