
Caros e caras colegas
Fiz parte da comissão julgadora do concurso, pela APD-PE.
Dos mais de setenta desenhos enviados, cada jurado votou em cinco na primeira fase e na segunda fase, votando em apenas um, o mais votado seria o vencedor.
Confesso que há uma dificuldade nesse tipo de seleção, porque o olhar de cada jurado é diferente. A intenção do cliente é fazer um determinado tipo de uso. O representante do Clube de Criação olha por outro viés. Eu lá, procurando elementos de composição que comunicassem a filosofia do serviço que a empresa presta. A agência, possivelmente, desejando a que melhor rendesse anúncios, campanhas e promoções.
Quem já participou de concurso sempre sentiu certo desapontamento, porque o júri escolhe sempre diferente do que a gente acha que é o melhor.
Aconteceu que logo após o site do concurso anunciar o vencedor, alguém ligou para Marta Lima, proprietária da Agência de Propaganda que atende a conta da Vital Engenharia e organizadora do concurso, e disse que havia uma ilustração na Stockphoto que era quase igual à vencedora.
Quando o vencedor foi lá pra receber o prêmio, foi alertado que havia essa denúncia e que seria preciso apurar.
Ele então argumentou que, de fato, havia pegado a base do Stockphotto, teria inclusive adquirido o direito sobre a ilustração, através de um contrato que permite baixar até 10 figuras por dia (enviou depois o comprovante com data anterior), mas que não inscreveu-a direto. Trabalhou em cima, alterou alguns elementos, alongou, acrescentou braços, tirou nariz, etc... e disse ainda: -“mais ou menos como os publicitários fazem no dia-a-dia com as referências tiradas da internet...”
A Marta Lima Comunicação convidou então os jurados, o cliente e o advogado do cliente para uma reunião extraordinária, que aconteceu no começo da tarde da sexta-feira, 18, para avaliarmos as implicações técnicas e jurídicas.
Não queríamos ser injustos. Podíamos simplesmente desclassificar a vassoura vencedora e dar o prêmio ao segundo colocado, mas e se os argumentos dele forem procedentes? Avaliamos que diferentemente da música que tem lá seus sete ou oito acordes que não podem se repetir sem configurar plágio, na ilustração esse conceito fica mais difícil de definir.
E convenhamos, mais de setenta vassouras, com braços, luvas, pelos, olhos, carinhas, tem uma hora que você sabe as que não tem a mínima chance, mas algumas atendem a expectativa do cliente e estão em condições de ser a vencedora.
Reconhecemos que não era uma decisão fácil, mas resolvemos manter o resultado. Fizemos a ata da reunião e assinamos, assumindo as conseqüências da decisão.
Agora uma coisa chama a atenção neste caso. No blog usam palavras como sujeira, marmelada e ainda lamentam que o Brasil seja assim mesmo. Vá lá, a maioria me pareceu de estudantes, estão exercendo a liberdade de opinar ainda sem medir as conseqüências.
Mas aqui na lista de profissionais alguns que se manifestam com indignação atropelam a lógica ao imaginar que houve “carta marcada”, “cheirinho de marmelada”, e que “ligação com política é sempre duvidoso”.
Tudo o que se deseja numa situação dessas é que não haja problemas como esse, mas aconteceu. Fizemos o que achamos mais correto, à luz dos fatos e no tempo que tínhamos.
Para os colegas eu peço, pelo menos, serenidade e respeito. Como em todos os concursos, a comissão julgadora é soberana. E esta não foi leviana.
Dida Maia