Não há, no Recife, um proprietário de veículo sem uma história negativa para contar a respeito de um flanelinha. Basta estacionar próximo a qualquer lugar público e abrir a porta do carro que o cidadão vai encontrar este personagem parado à sua frente. Impávido. Altivo. Com aqueles olhos lhe cobrando algo que você nunca prometeu. Mas você é dono de um veículo, estacionou na área “de propriedade” do tal sujeito. E ele até foi cadastrado pela Prefeitura. Sente-se coberto de razão em lhe cobrar.
O Carnaval já se aproxima e quem procurar uma vaga nas proximidades do Recife antigo vai ter de pagar em média R$ 10. Pagamento à vista, porque na volta o flanelinha não quer estar ocupado para sair correndo atrás dos motoristas, todos saindo de uma vez. Naquele alvoroço da saída, o nosso personagem já pretende estar em casa no seu quinto sono, curtindo as meropeias que tomou com o dinheiro “suado”, conquistado naquela trabalhosa noite. Seu carro pode estar arrombado, sem o som, mas o flanelinha já ganhou o dele. Tchau, tchau.
E se você não quiser pagar adiantado, na certa vai ter que enfrentar as ameaças do dono da área em que estacionou. A lei ali é ele. E quem desobedece pode encontrar o veículo amassado na volta.
A perturbação que os flanelinhas levam para o cidadão nas vias públicas já foi mil vezes discutida, detalhada, denunciada. Mas é estarrecedora a parcimônia da Prefeitura com esse abuso. Há quem defenda que é preciso ajudá-los, treiná-los, coisa e tal. Mas só há um porém: o que tem o cidadão com isso? O cidadão que paga impostos, que paga o IPVA, o Licenciamento, o Seguro Obrigatório. Que tal a PCR mandar os guardas da CTTU, essa inútil companhia de trânsito, a trabalhar no disciplinamento dos estacionamentos?
Seria bom que esses servidores públicos fossem tão implacáveis com os flanelinhas como o são com os cidadãos que, por ventura, cometem o absurdo de estacionar o carro a pouco mais de um palmo do meio fio. É multa na certa. Ou então, se o sujeito que esquecer de colocar o cinto ao dar saída no carro. Se houver um guarda na esquina, é uma canetada daquelas. Não tem conversa. E não insista porque você pode até apanhar “por desacato à otoridade”
Mas a Prefeitura do Recife, e não é só nesta gestão nem desse partido, sempre foi omissa com o tema flanelinha. Claro que a Era João da Costa tem se superado neste aspecto. E noutros também: o Recife está fedendo mais do que em anos anteriores. Mas, com certeza, não é com o suor dos flanelinhas. Porque esses nem precisam suar para tomar o dinheiro do cidadão.