Opositor a Chávez morre após oito meses em greve de fome


Da UOL

O produtor rural Franklin Brito morreu ontem à noite em Caracas por complicações decorrentes de oito meses quase ininterruptos de greve de fome. Brito protestava pela situação de suas terras que, sustentava, haviam sido expropiadas pelo governo Hugo Chávez.

O produtor rural de 49 anos morreu no Hospital Militar de Caracas, onde estava internado por ordem da Justiça e contra sua vontade desde janeiro. "Seguiremos lutando pelas terras", disse à reportagem sua filha, Angela, 20.

Mais tarde, a família, em comunicado, afirmou que Brito será "símbolo e bandeira" dos que lutam contra os "atropelos do poder". Acusaram o governo Hugo Chávez de ignorar as exigências do produtor e vetar assistência médica escolhida por ele.

O caso de Brito se arrastava desde 2005, com várias versões e reações diversas do governo e da Justiça. O produtor rural fez, no período, oito greves de fome e, em 2005, cortou um dedo ante às câmeras de TV.

GOVERNO NEGA EXPROPRIAÇÃO

O governo Chávez diz que não houve expropriação das terras do produtor e que as autoridades fizeram o que podiam para demovê-lo do jejum.

Na semana passada, ele foi visitado pelo ministro da Agricultura, Juan Carlos Loyos, que acusou a oposição de manipulá-lo.

Caracas já havia demonstrado preocupação pela repercussão internacional e interna do tema. Em junho, quando Brito resolveu radicalizar a greve de fome, o governo convocou jornalistas e órgãos como a ONU e a OEA (Organização dos Estados Americanos) para falar do tema.

Earle Siso, diretor do hospital militar onde Brito estava, afirmou à época que o governo estava "respeitando o direito de greve de fome, mas, ao mesmo tempo, e por ordem judicial, preservando sua vida".

Já o vice-presidente Elías Jaua acusou a oposição de orquestrar "uma campanha internacional" contra Chávez, num intento de transformar Brito num mártir das expropriações.

Ontem, um apresentador do canal opositor Globovisión afirmou: "Tomara que a tragédia de Franklin Brito não seja a tragédia de todos os venezuelanos".

A polarizada Venezuela está às vésperas das eleições legislativas de 26 de setembro. Llíderes opositores como integrantes da cúpula católica criticavam o governo pelo caso.

Desde 2005, Brito e governo chegaram a dois acordos, considerados insuficientes pelo produtor.

Em junho, em conversa com a Folha, a filha Angela dissera que o pai recebera o equivalente a US$ 186 mil do governo em tratores e outros artigos agrícolas, mas que desejava devolver a quantia porque exigia que Caracas reconhecesse que se trata de uma indenização pelos danos causados e não "benefícios".

Por Adriano Oliveira

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