
O prefeito do Recife sabe muito bem que prefeito, qualquer um, de qualquer lugar, não é nada mais nada menos que um mandatário. Também sabe, estou certo, o que mandatário quer dizer. "Aquele que recebe mandato ou procuração para agir em nome de outro; executor de ordens ou mandados, de atos autorizados pelo mandante, em cujo nome e sob cuja responsabilidade age". Exemplo: vereador e prefeito são mandatários do povo. Não inventei nada. Tá no Dicionário Houaiss (só os grifos e exemplos são meus).
Pois bem, quem ordenou, mandou ou autorizou que se construísse um shopping center na Tamarineira, em área (9,13 hectares) tombada pelo patrimônio histórico estadual? O mandatário atual diz que não mandou, que nem sabia de nada (sic). Como a coisa foi feita à sorrelfa e já faz algum tempo, vai ver que se algum mandatário mandou, foi o anterior. Não interessa. Um ou outro, se alguém mandou, usurpou. Porque o povo e as entidades que o representam não foram consultados. E nem ele, o mandatário, tem poder para destombar nada.
Recebi dezenas de e-mails e telefonemas sobre a ameaça de construção desse shopping na Tamarineira. Nada a favor. Aliás, tudo, rigorosamente tudo, que vi, li e ouvi até hoje é contra qualquer coisa de pedra e cal que se pretenda construir ali. Uns mais, outros menos contundentes, mas todos contra. Se havia alguém a favor, não aparecia. Não botava a cara. Nem dava o nome. Era um projeto órfão.
Semana passada, finalmente, os protagonistas dessa novela sinistra saíram das sombras e botaram a cara ao lume. A Santa (e misericordiosa) Casa e a carioca Releasis Empreendimentos Imobiliários assinaram e publicaram uma nota conjunta, em que a primeira diz que alugou (não vendeu) e a segunda conta (como favas contadas) que vai construir um shopping.
A Santa (e misericordiosa) Casa pode muito, é rica e poderosa, mas, até onde se sabe, não permite ou deixa de permitir que se construa nada nesta cidade. E o comprador (ou inquilino, como revelaram agora), idem; também não permite ou deixa de permitir coisíssima alguma. Pelo menos é o que se imagina.
Eu disse anteriormente que o projeto do shopping era “órfão”. Mas, melhor dizendo, era de pai desconhecido. Era. Porque as investigações de paternidade revelaram fortes indícios de que o pai seria Dom José Cardoso Sobrinho, à época o mandão da Santa (e misericordiosa) Casa. Seguinte: tudo faria parte de um ardiloso plano de vingança de Dom Cardoso, que teria ido às forras contra o Recife, porque o povo amava Dom Hélder e o ignorava solenemente. (Posso, até, imaginá-lo lá no esconderijo onde se refugiou, vociferando com sua voz cavilosa: “A vingança será maligna!”).
Mas não tem nada perdido. Desde a década de 50 que a Santa (e misericordiosa) Casa ameaça vender a Tamarineira. E já naquela época, o cronista Mário Melo questionava a legitimidade dessa propriedade, citando documentos do século XIX, existentes no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico. Recentemente, a historiadora e pesquisadora Virgínia Pernambucano de Mello desencavou um documento de 1925, do governo de Sérgio Loreto, que coloca a Tamarineira sob a gestão do Estado de Pernambuco.
Ora, ora, conterrâneos, como dizem os juristas, “o Direito é bom”: o mandatário não manda (e não mandou), a área é tombada e, de quebra, ninguém pode alugar o que não é seu.
À luta! À justiça! À vitória! Ao Parque Público da Tamarineira (sem shopping). E viva o tema da Campanha da Fraternidade 2010: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro.
PS. Como o tema que abordei em janeiro, antes de sair de férias, está em pauta, antecipei o meu retorno ao batente.
Por Joca Souza Leão: batizado, crismado, eleitor no Recife e morador do Espinheiro, bairro adjacente à Tamarineira.
Publicado no seu blog "Crônicas do Joca"
Pois bem, quem ordenou, mandou ou autorizou que se construísse um shopping center na Tamarineira, em área (9,13 hectares) tombada pelo patrimônio histórico estadual? O mandatário atual diz que não mandou, que nem sabia de nada (sic). Como a coisa foi feita à sorrelfa e já faz algum tempo, vai ver que se algum mandatário mandou, foi o anterior. Não interessa. Um ou outro, se alguém mandou, usurpou. Porque o povo e as entidades que o representam não foram consultados. E nem ele, o mandatário, tem poder para destombar nada.
Recebi dezenas de e-mails e telefonemas sobre a ameaça de construção desse shopping na Tamarineira. Nada a favor. Aliás, tudo, rigorosamente tudo, que vi, li e ouvi até hoje é contra qualquer coisa de pedra e cal que se pretenda construir ali. Uns mais, outros menos contundentes, mas todos contra. Se havia alguém a favor, não aparecia. Não botava a cara. Nem dava o nome. Era um projeto órfão.
Semana passada, finalmente, os protagonistas dessa novela sinistra saíram das sombras e botaram a cara ao lume. A Santa (e misericordiosa) Casa e a carioca Releasis Empreendimentos Imobiliários assinaram e publicaram uma nota conjunta, em que a primeira diz que alugou (não vendeu) e a segunda conta (como favas contadas) que vai construir um shopping.
A Santa (e misericordiosa) Casa pode muito, é rica e poderosa, mas, até onde se sabe, não permite ou deixa de permitir que se construa nada nesta cidade. E o comprador (ou inquilino, como revelaram agora), idem; também não permite ou deixa de permitir coisíssima alguma. Pelo menos é o que se imagina.
Eu disse anteriormente que o projeto do shopping era “órfão”. Mas, melhor dizendo, era de pai desconhecido. Era. Porque as investigações de paternidade revelaram fortes indícios de que o pai seria Dom José Cardoso Sobrinho, à época o mandão da Santa (e misericordiosa) Casa. Seguinte: tudo faria parte de um ardiloso plano de vingança de Dom Cardoso, que teria ido às forras contra o Recife, porque o povo amava Dom Hélder e o ignorava solenemente. (Posso, até, imaginá-lo lá no esconderijo onde se refugiou, vociferando com sua voz cavilosa: “A vingança será maligna!”).
Mas não tem nada perdido. Desde a década de 50 que a Santa (e misericordiosa) Casa ameaça vender a Tamarineira. E já naquela época, o cronista Mário Melo questionava a legitimidade dessa propriedade, citando documentos do século XIX, existentes no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico. Recentemente, a historiadora e pesquisadora Virgínia Pernambucano de Mello desencavou um documento de 1925, do governo de Sérgio Loreto, que coloca a Tamarineira sob a gestão do Estado de Pernambuco.
Ora, ora, conterrâneos, como dizem os juristas, “o Direito é bom”: o mandatário não manda (e não mandou), a área é tombada e, de quebra, ninguém pode alugar o que não é seu.
À luta! À justiça! À vitória! Ao Parque Público da Tamarineira (sem shopping). E viva o tema da Campanha da Fraternidade 2010: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro.
PS. Como o tema que abordei em janeiro, antes de sair de férias, está em pauta, antecipei o meu retorno ao batente.
Por Joca Souza Leão: batizado, crismado, eleitor no Recife e morador do Espinheiro, bairro adjacente à Tamarineira.
Publicado no seu blog "Crônicas do Joca"