
A dona de casa pernambucana Elizabete Galvão está contando as horas que faltam para chegar este sábado, 24 de outubro, quando ela viaja para Americana, em São Paulo. Não se trata de uma viagem de negócios ou lazer. Ela vai para reencontrar seu pai após 47 anos sem vê-lo. O encontro só será possível porque Elizabete, que mora em Olinda, conseguiu localizá-lo pela internet, através da rede de relacionamento Orkut. "Eu estou bastante ansiosa e muito feliz porque sempre sonhei com esse momento", diz Elizabete, que hoje tem 49 anos. No Estado de São Paulo, seu José de Arimatéia Menezes também está na expectativa do reencontro. "Para mim, foi uma surpresa muito grande. Não esperava jamais ver minha filha porque não tinha notícia dela há muito tempo e ainda não tinha encontrado um meio de localizá-la", fala.
Em meio aos preparativos da viagem, Elizabete conta um pouco da história da família. Sua mãe, dona Maria Júlia, que já é falecida, tinha uma pensão no Centro do Recife. No ano de 1950, seu pai, José de Arimatéia Menezes, veio à capital pernambucana para estudar num seminário e ficou hospedado na pensão de dona Maria, então viúva. Eles namoraram e, em 1960, Elizabete nasceu. Depois de uma briga entre os pais da menina quando ela tinha apenas 2 anos, Arimatéia foi embora do Recife sem nunca mais aparecer. "Minha mãe sempre dizia que ele estava morto. Ela não gostava de falar nada sobre meu pai", recorda Elizabete. A irmã mais velha de Elizabete, filha do casamento de dona Maria, era quem lhe dava algumas poucas notícias de seu pai.
"Foi ela que me falou que ele tinha se mudado para São Paulo", conta. Até hoje a dona de casa não sabe o motivo da briga que separou seus pais. "Todos esses anos se passaram, mas eu nunca deixei de ter vontade de conhecê-lo", diz. A ideia de procurar por José de Arimatéia só surgiu em agosto desse ano, quando Elizabete colocou acesso à internet na casa onde mora com a filha Juliane e com o neto João Mateus no bairro de Casa Caiada. Aliás, partiu de Juliane a sugestão de fazer a busca. Depois de procurar pelo nome do avô no Google e no Facebook, ela recorreu ao Orkut e encontrou um perfil com o mesmo nome.
"Daí eu fui comparando as informações que eu tinha sobre ele: a cidade natal, a cidade onde ele morava, a idade apróximada. Tudo bateu", fala Juliane. O contato inicial foi com a nora de Arimatéia, Debóra Menezes, que estava na lista de amigos do avô de Juliane. Todas as trocas de mensagens foram acompanhadas de perto por Elizabete, que sentava na beira da cama enquanto a filha mandava e recebia as mensagens. Após uma série de perguntas e respostas, Débora levou o caso a seu marido, filho de Arimatéia, que foi conversar com o pai sobre o assunto. Até aí, ninguém da família dele sabia da existência dessa filha pernambucana.
"Meu irmão contou que foi tentando conversar aos poucos com o pai, que é muito reservado. Ele foi perguntando sobre o passado dele, sobre o tempo que passou no Recife, até que ele próprio abriu que teve uma história de amor muito bonita na cidade e que teve até uma filha", relata Elizabete. Após a confissão, o filho contou ao pai que Elizabete entrou em contato para conhecê-lo. Segundo o irmão de Elizabete, Arimatéia disse que seria a maior felicidade da vida dele reencontrar a filha. A partir daí, começaram os contatos entre pai e filha por telefone e pelo Skype, através do qual os dois podiam se ver via webcam. No início de outubro, Juliane foi ao Mato Grosso do Sul para um treinamento que a empresa em que trabalha promoveu. Na volta, ela fez uma conexão em Campinas (SP). "
Meu avô, meu tio e a esposa dele foram até o aeroporto me encontrar. Durante as quatro horas que passei em São paulo, nós conversamos muito. Ele é muito legal, bem descontraído", afirma. ANIVERSÁRIO - Elizabete embarca na madrugada do sábado e fica em São Paulo até o dia 8 de novembro. Ela vai comemorar o aniversário do pai, que faz 71 anos em 2 de novembro, ao lado dele. Sobre as expectaivas do encontro, diz que quer aproveitar a companhia do pai e não pretende falar sobre assuntos do passado. "Eu acho que, pelo tempo, não tem mais nada para perguntar, Quero curtir o encontro. O que passou passou. Ele era muito jovem naquela época e todo jovem comete erros", afirma.
Em Americana, José de Arimateia diz que a expectativa não é só dele, mas de toda a sua família. "Todos os meus filhos aceitaram e aplaudiram demais esse evento. A família toda está alegre porque vai ganhar mais membros", conta. "Minha filha é linda. Eu adorei vê-la e vou adorar ainda mais quando ela chegar aqui. Vai ser um presentão de aniversário", completa.
Fonte: JC
Foto: Priscila Muniz