Morre Rei Momo do Carnaval de Recife
Nem som de trompetes, nem serpentinas. Sob o silĂȘncio de alguns parentes que nunca o visitavam e dos poucos que o conheciam fora do Abrigo Cristo Redentor, em JaboatĂŁo dos Guararapes, onde vivia, o ex-Rei Momo da cidade do Recife, por nove anos, desceu definitivamente do palco de uma vida que, hĂĄ tempos, desejava despedir-se. Manoel Quintino de Lucena, aos 67 anos, trocou a cadeira de rodas que tirou o frevo de seus cansados pĂ©s pelo merecido descanso e foi sepultado na tarde desta segunda-feira (25), no CemitĂ©rio Parque das Flores. Acometido de condiçÔes cardiovasculares pelos Ășltimos dez anos, seu coração nĂŁo resistiu a um infarto que o surpreendeu no fim da tarde de ontem.
Lucena foi momo entre as dĂ©cadas de 70 e 80, quando pesava cerca de 115 kg. Dizia ter sido considerado a mais bela das majestades do carnaval pelo tambĂ©m rei, do baiĂŁo, Luiz Gonzaga. Nos Ășltimos anos, brigava contra hipertensĂŁo e uma sĂ©rie de varizes nos membros inferiores, quase que Ășnica companhia que teve desde a morte da mĂŁe, em 2003. Aos companheiros de abrigo, lembrava dos momentos ĂĄureos, sempre acrescentando um detalhe ou outro a mais quando a memĂłria jĂĄ nĂŁo preenchia todas as lacunas de uma histĂłria jamais escrita.
Ex-detetive, militar e até chefe de segurança do então presidente Castelo Branco, Lucena não lembrava, em nada, os tempos da juventude. Nem o peso extra o acompanhava ao final da caminhada. Deixou para trås as dores e coroas das quais tanto falava. A frase de efeito "Primeiro é Deus, no céu. Aqui na Terra, é dinheiro" ainda ecoa pelos corredores do Cristo Redentor. Dinheiro, Lucena não encontrou. Resta esperar para que, enfim, encontre seu Deus.
Do DP
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