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Morre Rei Momo do Carnaval de Recife

HĂĄ 10 anos, Lucena passava os dias no Abrigo Cristo Redentor (Teresa Maia/DP/D.A.Press)
Por Ed Wanderley

Nem som de trompetes, nem serpentinas. Sob o silĂȘncio de alguns parentes que nunca o visitavam e dos poucos que o conheciam fora do Abrigo Cristo Redentor, em JaboatĂŁo dos Guararapes, onde vivia, o ex-Rei Momo da cidade do Recife, por nove anos, desceu definitivamente do palco de uma vida que, hĂĄ tempos, desejava despedir-se. Manoel Quintino de Lucena, aos 67 anos, trocou a cadeira de rodas que tirou o frevo de seus cansados pĂ©s pelo merecido descanso e foi sepultado na tarde desta segunda-feira (25), no CemitĂ©rio Parque das Flores. Acometido de condiçÔes cardiovasculares pelos Ășltimos dez anos, seu coração nĂŁo resistiu a um infarto que o surpreendeu no fim da tarde de ontem.

Lucena foi momo entre as dĂ©cadas de 70 e 80, quando pesava cerca de 115 kg. Dizia ter sido considerado a mais bela das majestades do carnaval pelo tambĂ©m rei, do baiĂŁo, Luiz Gonzaga. Nos Ășltimos anos, brigava contra hipertensĂŁo e uma sĂ©rie de varizes nos membros inferiores, quase que Ășnica companhia que teve desde a morte da mĂŁe, em 2003. Aos companheiros de abrigo, lembrava dos momentos ĂĄureos, sempre acrescentando um detalhe ou outro a mais quando a memĂłria jĂĄ nĂŁo preenchia todas as lacunas de uma histĂłria jamais escrita.
Lucena, na coroação de 1974 (Arquivo/DP/D.A.Press)
Entre os pertences, a pequena bolsa com o nome "Carnaval" escrito. Uma alusĂŁo Ă  festa que o tornou famoso hĂĄ algumas dĂ©cadas, mas tambĂ©m ao Ășnico amigo, Nelson Carnaval, 27, que considerava um filho desde que o conheceu e recebeu suas visitas, sempre aos domingos, hĂĄ oito anos. Para o professor de matemĂĄtica, Lucena morreu de descaso. "Ele se despediu de mim. Me deu fotos antigas e disse que nĂŁo aguentava mais as dores. Disse adeus. SaĂ­ do abrigo sem poder socorrĂȘ-lo porque nĂŁo havia ninguĂ©m para autorizar sua saĂ­da. Ele nem chegou a ser socorrido", lamenta.

Ex-detetive, militar e até chefe de segurança do então presidente Castelo Branco, Lucena não lembrava, em nada, os tempos da juventude. Nem o peso extra o acompanhava ao final da caminhada. Deixou para trås as dores e coroas das quais tanto falava. A frase de efeito "Primeiro é Deus, no céu. Aqui na Terra, é dinheiro" ainda ecoa pelos corredores do Cristo Redentor. Dinheiro, Lucena não encontrou. Resta esperar para que, enfim, encontre seu Deus.

Do DP

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