Sem Carlos Alberto de Oliveira, quem vamos culpar?

Por Cristiano Ramos*

Não se trata de, agora, elogiar o presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Carlos Alberto Oliveira, falecido no começo da semana, aos 69 anos, após um infarto fulminante. Seus erros não deixarão de repercutir em nosso futebol por bom tempo, assim como seus acertos. Ter em mãos grandes e duradouras responsabilidades implica acumular equívocos e realizações, sempre. Quando se assume lugares dessa importância, a balança que mede feitos e desventuras vai além da própria vida.

Não é questão de, por causa de seu encantamento, esquecermos seu jeito turrão, a não rara maneira generalizante e grosseira como se referia à imprensa esportiva, a extrema centralização à frente da FPF, a pouca disposição para alternância de poder (ficou 16 anos no comando da instituição). Tampouco podemos esquecer sua paixão pelo que fazia, a coragem que demonstrava quando acreditava estar na defesa do futebol pernambucano, o empenho que dedicou ao fortalecimento dos clubes do interior.

Mas, inevitavelmente, as pessoas que perdemos nos obrigam a pensar sobre o quanto colocávamos sobre seus ombros as nossas conquistas ou fracassos. Ainda mais importante, somos levados a apresentar outras soluções para os problemas, diferentes daquelas que acusávamos de errôneas quando tomadas pelos que se foram.

Carlos Alberto detinha poder demais? Que os clubes pressionem desde logo o vice-presidente Evandro Carvalho, para que delegue mais funções, para que melhore a relação entre FPF e comunidade esportiva – promessas que ele já fez, inclusive. Negócio é tentar modernizar a casa assim que possível, enquanto o sucessor não tem força política nem aparelhagem suficientes para peitar as agremiações, a mídia e os torcedores. Por outro lado, caberá ao Evandro não se intimidar com as pressões, abrir-se ao diálogo sem deixar brechas para aproveitadores de plantão.

Carlos Alberto Oliveira administrava mal a escolha do regulamento do campeonato, então que todos os envolvidos realmente discutam à exaustão qual seria o melhor modelo, sabendo que às vezes é preciso desistir de vantagens pessoais (entenda-se “de um só clube”), convictos de que não adianta se omitirem do processo, ou assinarem embaixo e depois ficarem reclamando da tabela.

Por aí vai: reflitam sobre qual o papel da Federação, sobre como deve ser seu posicionamento no que diz respeito à Copa do Mundo, ao Clube dos 13, à Confederação Brasileira de Futebol, à mídia etc. Certos de que tascar pedra é fácil. Vai lidar com diretores de clube, com a diversidade de profissionais da imprensa (tem de todo tipo, dos melhores aos mais sacais, como em qualquer área), com os interesses dos meios de comunicação, com os torcedores (incluindo os “organizados”), com o monarca Ricardo Teixeira, com os políticos locais (que frequentemente não percebem a importância econômica e cultural do esporte).

Além do que, sob aquele tipo todo, debaixo da personagem pública Carlos Alberto, tinha sujeito de coração grande – para o bem e para o mal, pois, como bem ensinou Sérgio Buarque de Holanda, ser muito coração leva às grandes realizações, mas também aos maiores erros. Coração enorme, e um humor que não aparecia muito, mas deixou lembranças impagáveis. Certa feita, por exemplo, quando liguei para confirmar a presença dele em um programa de TV, pedi que repetisse algo, ao que ele respondeu:

– Tem problema não, é minha voz, dureza mesmo entender. O bom é que, às vezes, quando falo um desaforo muito grande, para alguém que não merece, eu não repito, invento outra coisa pra dizer. Mas, se o sujeito é muito chato e acha que eu lhe soltei uns palavrões, não desminto, eu confirmo e até aumento!

Como não ter saudades?

* Cristiano Ramos é jornalista e assina a coluna Na Diagonal, publicada todas as quartas-feiras, no Blog do Torcedor

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