E agora? Em 2009, Dilma dizia que não haveria mais ‘apagão’
Foto: Wilson Dias/ABr
Do Blog do Josias
Nessa época, Dilma ainda era chefe da Casa Civil de Lula. Falava ao programa ‘Bom Dia Ministro’, da estatal EBC (Empresa Brasileira de Comunicação).
Perguntou-se a ela se os investimentos do governo em energia davam a “completa certeza” de que não haveria novo apagão no país.
E ela: “Pode, sim, significar essa certaza. Primeiro, porque nós estamos, sistematicamente, fazendo como se faz na bicicleta...”
“...A gente não pode parar de construir usinas hidrelétricas, usinas térmicas, usinas eólicas”.
Citou a construção de duas usinas: Santo Antônio e Girau. Juntas, disse ela, produziriam “mais de 6 mil megawatts” de energia.
Prosseguiu: “Nós também temos uma outra certeza de que não vai ter apagão. É que nós, hoje, voltamos a fazer planejamento”.
Escassos 12 dias depois dessa entrevista de Dilma, o Brasil arrostou o mais disseminado apagão de sua história.
Foram desligados da tomada 18 Estados. Ficaram no escuro cerca de 70 milhões de brasileiros.
Devolvida à boca da cena, Dilma, que jactava-se de ter reestruturado o sistema elétrico brasileiro quando fora ministra de Minas e Energia, perdeu a calma.
Em nova entrevista, uma repórter inquiriu a então ministra sobre a declaração em que ela havia assegurado que o país estava livre do risco de apagão.
Dilma discorria sobre a apuração das causas do novo apagão. Servia-se de dados divulgados à época pelo colega Edison Lobão.
Lobão atribuíra o breu de 2009 a raios e trovões. Dilma aconselhava os repórteres a aguardarem pelo término da apuração.
E quanto à sua declaração de que não haveria apagão?, perguntou a repórter. “Não teve”, redargüiu Dilma, elevando o tom de voz.
“Você está confundindo duas coisas, minha filha. Uma coisa é blecaute. Trabalhamos com um sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede...”
“...E interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter”. Dilma evocou, então, o racionamento de energia da Era FHC:
“...O que nós prometemos é que não terá nesse país mais racionamento. Racionamento é barbeiragem...
“...É barbeiragem porque racionamento implica que, com cinco anos de antecedência, não soube a quantidade de energia que tinha de entrar para abastecer o país”.
Apertando aqui, você chega ao vídeo que lhe permitirá recordar o abespinhamento dessa Dilma pós-apagão de 2009.
Pois bem. Na madrugada desta sexta (4), Dilma foi submetida ao primeiro apagão de sua presidência (ou blecaute, como ela prefere).
Dessa vez, o breu atingiu sete Estados do Nordeste –algo como 90% da região. O suprimento de energia foi interrompido por até quatro horas.
Dilma reagiu com um par de providências. Repassou-as aos repórteres por meio do porta-voz. Mandou reforçar a fiscalização e a manutenção do sistema.
Considerando-se o “planejamento” que a Dilma-2009 dizia ter sido retomado, as medidas da Dilma-2011 sugerem a reiteração da “barbeiragem”.
Em notícia veiculada neste sábado (5), a Folha revela: a quantidade de apagões graves como o que acaba de atingir o Nordeste cresceu 90% entre 2008 e 2009.
O dado é oficial. Proveu-o o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Atribui-se o problema a duas causas: adversidades climáticas e falta de investimentos.
Apenas no ano passado, registraram-se no país 91 desligamentos superiores a 100 MW. Equivale ao consumo médio de uma cidade com 400 mil habitantes.
Em 2009, houve 77 desligamentos do mesmo tipo. Em 2008, ocorreram 48 quedas do sistema.
Nesse ritmo, a Dilma presidente terá de ecoar muitas vezes a Dilma ministra:
“Nós trabalhamos com um sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede. E interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter”.
O que diferencia a nova Dilma da anterior é a condição funcional. Presidente, responde pela continuidade de uma gestão a que serviu ora como titular das Minas e Energia ora como supergerente de tudo.
Falar de falta de planejamento agora é o mesmo que alvejar Lula e o próprio pé. A Era FHC é um ponto longínquo no retrovisor.
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