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Reginaldo Rossi critica a vergonha do Brasil de assumir seu lado brega


Por Ailton Magioli, do Estado de Minas
Postagem: Gabriel Diniz


Se Frank Sinatra morreu cantando “Just forgive me/ Or I’ll die/ Please, let me try again” (“apenas me perdoe/ Ou morrerei/ Por favor, me deixe tentar de novo”), versos do megassucesso Let me try again, por que Reginaldo Rossi não poderia assumir o título de Rei do Brega?

“Só porque Sinatra canta em inglês?”, provoca o cantor e compositor recifense, que está lançando O cabaret do Rossi nos formatos DVD e CD. Com visual kitsch e participação de bailarinas louras e morenas, que trocam de figurino pelo menos cinco vezes, o show, gravado ao vivo em estúdio paulistano, é o retrato fiel do artista, que se autointitula “advogado das mulheres”.

Sem disfarçar a postura politicamente incorreta, ele não poupa as próprias moças nem os gays. Do alto de sua história de vida sui generis – trocou o rock and roll pelo gênero romântico popular em plena ditadura –, o ex-engenheiro civil gravou cerca de 50 discos.

Seu repertório, para a surpresa de alguns, escancara a porção brega das celebridades da MPB. Reginaldo vai de Marisa Monte (Amor I love you, composta com Carlinhos Brown) e Gloria Gaynor (o hino gay I will survive) a Creedence Clearwater Revival (Have you ever seen the rain?). Gravou estes sucessos em versões personalizadas (as duas últimas canções estão apenas no DVD). Todas, naturalmente, com direito a tradução simultânea de alguns versos, a cargo do próprio Reginaldo.

Além de seus hits Dama de vermelho, Leviana, Ombro amigo e Meu fracasso, o cantor apresenta as inéditas Dor de corno e Senha. Adaptadas ao estilo Reginaldo, as canções ganharam arranjos característicos, com destaque para a performance do saxofone e dos teclados (são dois, na banda de sete músicos).

Rossi tem uma tese: Caetano Veloso, quando canta “esse papo seu tá qualquer coisa/ Você já tá pra lá de Marrakesch”, se comunica com uma dezena de pessoas. “Agora, quando ele canta ‘e agora/ O que faço eu da vida sem você?’, do mineiro Fernando Mendes, se comunica com 10 milhões”, diz o pernambucano.

“Gosto demais de Mozart. Estudei música, falo um pouco de inglês e um pouco de francês. Canto em francês, que é brega mesmo. Nos meus shows, tem Ne me quitte pas, o maior brega do mundo”, empolga-se. “No Brasil, o problema é que a mídia criou onda depreciativa para quem canta algo como ‘Meu amor/ Eu te adoro/ Fica comigo essa noite’. Não se trata de preconceito, é frescura mesmo”’, acusa.

O pernambucano gosta de ouvir de Andrea Bocelli a Amado Batista. A exemplo de Paulo Coelho, garante: quando estava na faculdade, tinha de se declarar fã de Antonioni, Fellini e de Bertolucci, mas, na verdade, gostava mesmo era de ver John Wayne matando índios. “Esta é a verdade”, decreta.

Reginaldo cria até um verbo para explicar o fenômeno. “Ninguém – a massa, o povo – sabia quem era Luciano Pavarotti antes de ele bregar”, afirma esse artista “craque, inteligente e culto”, orgulhoso em cantar o que o povo gosta de ouvir. Inclusive o brega italiano, que, segundo ele, está por trás do estouro mundial do trio Placido Domingo, Luciano Pavarotti e Jose Carreras.

“Romântico é o que vende. O resto é balela. Quando o chifre dói, o diploma cai da parede”, filosofa Reginaldo. “Não tem mais essa história de música sertaneja. É tudo brega mesmo. Zezé di Camargo & Luciano cantam brega, Bruno & Marrone cantam brega. É todo mundo igual”. Inclusive Roberto Carlos. “Por que me arrasto a teus pés?”, cantarola ele, denunciando “o temor” da mídia brasileira em falar mal do Rei. “Hoje em dia, também dizem que sou cult. Principalmente depois de descobrirem que passei pela escola de engenharia”.

NO CINEMA Duas produtoras (uma delas, a Paramount, informa Reginaldo) já se interessaram em transformar a história de sua vida em filme. “Está para acontecer”, prevê o pernambucano, dizendo-se ótimo ator que detesta atuar. “Não gosto de maquiagem, nem de pontuação. Meu show não tem roteiro, não ensaio com ninguém”, avisa. A ideia de montar um cabaré para a gravação do novo DVD veio dos produtores Antonio Mojica e Victor Kelly, informa.

Na opinião de Reginaldo, não há mistério para o artista se destacar. “É chegar e cantar. Cada música tem uma interpretação”, ensina. Cauby Peixoto e Angela Maria são as maiores vozes do país, na opinião dele. Roberto Carlos é o melhor intérprete brasileiro.

Fazendo de oito a 10 shows por mês, principalmente no Norte e Nordeste, Reginaldo Rossi garante: a vendagem de seus discos também sofreu forte queda. “A pirataria acabou com a indústria”, conclui o campeão de vendas – 10 milhões de discos. Detalhe: Garçom, seu maior sucesso, não está no repertório do novo trabalho.

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