Do Blog de Jamildo
Postagem: Gabriel Diniz
Foto: Bernardo Soares
A primeira coisa a ser dita sobre a iniciativa do debate promovido pela TV Jornal e o SBT Nordeste é que foi uma grande iniciativa. Nunca antes na história do Nordeste candidatos a presidência haviam se encontrado para debater os problemas específicos da região.
A proposta da regionalização da TV foi, assim, um golaço, com certeza um marco no evento transmitido por dez afiliadas do SBT na região, nesta segunda-feira (20).
A segunda coisa a ser dita é que o debate foi morno, muito morno, não por culpa das regras propostas e estabelecidas, mas por insuficiência de desempenho de seus próprios protagonistas.
O exemplo melhor acabado é o próprio tucano José Serra, que não conseguia concluir seus pensamentos em várias oportunidades, extrapolando o tempo das respostas. Não resta dúvida que é bem preparado, mas o ar professoral não ajuda no vídeo. É inacreditável sua falta de objetividade no embate desta segunda.
De olho nos votos que precisa para tentar chegar ao segundo turno, apelou para o populismo, aparentemente deixando de lado o equilíbrio (fiscal) que sempre marcou o discurso dos tucanos. O candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, José Serra, propôs a concessão de 13º salário a beneficiários do programa Bolsa Família e um salário mínimo mais elevado aos trabalhadores. Teve até a sugestão de criação de uma Secretaria para o Semi-Árido. E a bomba do BNB, que foi criado para isto, desenvolver o Semi-Árido?
Repetiu ainda as propostas de reajuste de 10% para aposentados e de salário mínimo de R$ 600. Segundo colocado nas pesquisas, teve que ouvir de Marina a crítica de que a ampliação do programa Bolsa Família ocorre por motivos eleitorais.
Plínio
O candidato do PSOL Plínio de Arruda Sampaio manteve a linha franco atirador e abusou do tom jocoso para tentar chamar a atenção, havendo dúvidas se não ultrapassou o sinal. É bonito ver um homem sonhador, utópico, coerente, aos 80 e tantos anos. Pena que tamanha coerência não sirva ao mundo prático, como parece deixar patente a falta de votos. Sim, Plínio, o engraçadinho de plantão, é também um candidato que não pontua na maioria das pesquisas.
Despojado como de costume, Plínio acusou os rivais de andarem em más companhias: Citou os dilmistas Fernando Collor (PTB-AL), José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o serrista Marco Maciel (DEM-PE) e o marineiro Zequinha Sarney (PV-MA). “Esses são todos coronéis e são responsáveis pelo atraso do Nordeste”, disse.
Numa tirada irônica, daquelas de quem joga para a plateia, aliás mal comportada na noite desta segunda-feira, diria até desrespeitosa, o socialista disse que o senador do DEM, Marco Maciel, é um dos coronéis responsáveis pelo atraso do Nordeste. Um evidente exagero, é claro.
O discurso anacrônico vai de críticas ao agronegócio com a transposição até uma insólita proposta de revisão da Lei de Responsabilidade Fiscal. Até o PT já abandonou esse discurso, para eleger-se e governar.
O cara roubou a cena mesmo ao defender a legalização da maconha, como forma de combater o tráfico de drogas. Mas se apressou em dizer que não apertava um baseado.
Marina
Em vários blocos do programa, Marina e o candidato do PSOL tentaram polarizar o debate. A presidenciável do PV foi chamada de ingênua e de “mais conservadora na questão econômica do que todos os outros candidatos”. O socialista ouviu a rival chamá-lo de “desinformado”.
“Eu me livrei da velha gana de rotular as pessoas”, afirmou a ex-ministra do Meio Ambiente para alfinetar o adversário.
Marina defendeu ideias genéricas, como a ampliação do SUS, na área de saúde. A impressão geral é que ficou devendo, acoada por Plínio que foi.
O momento de maior expressividade parece ter sido a defesa da educação para todos, repetindo a platitude de que os filhos dos brasileiros precisam de mais oportunidades. A promessa veio a propósito de um questionamento sobre analfabetismo na Paraíba.
Marina disse que era um compromisso ético e pareceu bem convincente quando afirmou que uma pessoa que não tinha educação ouvia e entendia pela metade.
Oportunidade perdida
Neste sentido, não é fácil concluir que todos os candidatos foram muito superficiais e perderam uma boa chance de se aprofundar em temas caros à população, como transporte e segurança, educação, saneamento. Todos tergiversaram demais e apresentaram propostas concretas de menos.
Uma prova do descolamento dos candidatos da realidade nordestina foi a problemática da Sudene. Todos defenderam sua revitalização, incorrendo em um erro comum, que é o de trocar o instrumento pela causa. A Sudene não existe mais e o importante é o governo Federal possa ampliar os investimentos na região, de modo a corrigir as desigualdades regionais. Midiático, Lula usou essa imagem simbólica da Sudene apenas para criticar o governo FHC e ganhar mais alguns votos. Tanto é assim que a Sudene nunca saiu do canto. Mesmo com abraços e mais abraços em seu prédio. Nem deveria sair do papel essa promessa torta.
Neste caso, revela-se mais um acerto do tão mal afamado Fernando Henrique Cardoso. Foi ele que teve a coragem de fechar mais essa torneira aberta para a corrupção, como os bancos estaduais. Já imaginou essa centena de cargos e esses bilhões de reais do extinto Finor nas mãos de uma dupla Dilma/Erenice?
E se Dilma tivesse aparecido? Não há garantia de que tenha elaborado uma proposta que vá além do assistencialismo e do avanço do estatismo na economia.
A líder nas pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff (PT), não esteve presente. É como se dissesse que não precisa de mais votos no Nordeste. Na verdade, Dilma evitou se expor em um ambiente não controlado, como as aparições públicas ao lado do chefe Lula.
Com sua ausência, mostrou que não respeita o Nordeste, onde tem a maioria dos seus votos.
Durante o debate, os presidenciáveis obviamente aproveitaram a situação e criticaram a ausência da rival. Serra disse ainda que, em uma reforma política que promoveria se eleito, estará incluída a obrigação de candidato comparecer a debates durante a campanha. Marina afirmou que a ausência de Dilma é "uma ingratidão" com a região que, proporcionalmente, mais votos dá à petista.
A petista informou há menos de uma semana que não conseguiu conciliar o debate com outros eventos da campanha previamente agendados. Durante a manhã, Dilma participou um evento político em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Sua agenda não tinha compromissos para a noite. Depois, quem faz a agenda é o candidato.
No debate realizado na TV Gazeta, em São Paulo, em que também ocorreu a ausência de Dilma, ela foi sublinhada pela emissora que deixou uma cadeira vazia.
Os adversários reclamaram barbaridade e uma pesquisa do UOL indicou que o impacto das críticas não foi positivo. O antecedente pode ajudar a explicar porque Serra, Marina e Plínio fizeram críticas à ausência da petista, mas sem a mesma ênfase do outro debate.
Enfim, a cadeira que Dilma almeja não deixar vazia é outra.
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