Clima eleitoreiro não tira brilho da Parada Gay no Recife

Paulo Floro
Do JC Online
Postagem: Gabriel Diniz


Fotos: Marcelo Soares/JC Imagem
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Um travesti enorme vestido de Lady Gaga caminhava a passos firmes no caminho contrário à passeata. Botas de cano alto e peruca de náilon, a Parada Gay tinha terminado para ele. Mais à frente, um grupo de militantes de um candidato tal pareciam aliviados de poderem, enfim, ire embora para casa. No final do desfile, um número grande de pessoas ainda dançava, mesmo com os trios elétricos desligando o som, anunciando que a festa acabou. Cada um tinha um objetivo nessa Parada da Diversidade, e em ano de eleição, muita gente que foi ao evento neste domingo (12) carregava segundas intenções.

Entre o colorido do público, diversas bandeiras de políticos bradavam na avenida. E panfletos voavam com diversas legendas. Todos os anos a faceta política da festa está sempre presente, mas desta vez ganhou conotações mais eleitoreiras. Naquele clima carnavalesco, é de se perguntar se gays e lésbicas estavam mesmo interessados no discurso dos políticos presentes nesse domingo. Como bem deixou claro o Blog do Jamildo, ninguém admitiu estar por lá para pedir votos.

Foto: Marcelo Soares/JC Imagem

Os trios mantiveram o mesmo esquema do ano passado, mesclando militância e hedonismo puro e simples. O carro da boate Metrópole, por exemplo, concentrava os fashionistas da parada, com o ex-BBB Serginho sendo a grande estrela (?) desta edição. No som, muitos remixes e declarações da dona da boate, Maria do Céu, espécie de madrinha auto-declarada do gay recifense. Logo atrás, os Leões do Norte eram mais gritos e menos música, entoando protestos ao microfone. A mestre de cerimônias estava rouca perto do final da tarde, mas ainda assim não parava de criticar os políticos locais em relação à causa homossexual.

O Instituto Papai fazia uma mescla desses dois universos e tocava música pernambucana, como frevo, um pouco de samba e fazia algumas críticas ao microfone, mas o tom era de afirmação, de orgulho, enfim. Um dos mais animados era o da Prefeitura do Recife que teve como atrações a DJ Lady Kheke, conhecida pelas festas Putz e Felipe machado, da Sem Loção. Era de longe, o melhor setlist da parada.

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ORGULHO E PRECONCEITO - Este ano, a avenida viu mais uma vez crianças trazidas pelos pais, senhoras caminhando pelas calçadas ou simplesmente acenando nas varandas. A fauna foi mudar perto do final do dia, quando era possível ver atitudes nada condizentes com o clima de inclusão e celebração por direitos iguais entres gays e héteros.

Alguns garis da Prefeitura do Recife limpavam a rua imitando o clichê da "bicha afetada". E moradores locais passavam em seus carros com o rosto mostrando desaprovo. O mais curioso foram os torcedores do Santa Cruz e Sport que, já na Avenida Domingos Ferreira, recebiam as pessoas que voltavam da parada com hostilidade. Nomes impronunciáveis nesse horário e local. Um time de torcedores rubro-negros se divertia na Avenida Boa Viagem, em trupe, ao som de funk. A bandeira do leão, assim como a do Brasil, foi muito vista na parada.

A assessoria da Polícia Militar confirmou cerca de 80 mil pessoas este ano. E não registrou nenhum problema grave na segurança do evento. Depois de anos sendo mais odiada que amada quando acontecia numa sexta-feira à noite, na apertada Avenida Conde da Boa Vista, a Parada da Diversidade, enfim, entronizou o calendário do Recife.

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