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A DURA E "PRAZEROSA" VIDA DE COVEIRO


A morte é um assunto que causa temor em muitas pessoas, que só se aproximam de um cemitério no enterro de algum conhecido ou no Dia de Finados. Esse não é o caso de Reginaldo da Silva, de 43 anos. Coveiro há 16 anos, ele sempre sonhou com essa função. “Desde criança, de tanto ver gente morrer na minha rua (no bairro de Campo Grande, no Recife), já tinha vontade de cuidar dos mortos”, afirmou. “Quando cresci, procurei um emprego no qual lidasse com defuntos”. E assim se tornou coveiro do Cemitério de Santo Amaro, onde gosta de trabalhar. “Adoro tomar conta dos meus mortinhos. Já devo ter enterrado mais de dois mil”, calcula. O colega de profissão Emanuel Mendes, de 46 anos, também gosta do que faz. “Estou aqui há 22 anos e não troco esse trabalho por nenhum outro”, garantiu.

Antes de se tornar um sepultador, Paulo José de Aquino, 47, também conhecido como “Paulo Alegria” que trabalha há 22 no Cemitério Parque das Flores, já estava habituado a lidar com os defuntos. “Fui servente do IML (Instituto de Medicina Legal) por quase dois anos, já estava acostumado”. Já Júlio Casado, de 22 anos, está na profissão há apenas um ano, pretende largar o cargo quando tiver oportunidade. “Quero fazer concurso para ser policial militar”, disse. Mesmo quem ama o serviço, concorda que não é fácil. “Muitos corpos chegam fedendo bastante, eu tinha cada engulho... mas agora me acostumei”, falou Reginaldo da Silva. Para Ernandes Alves, de 57 anos, é um trabalho árduo. “Ontem enterrei vinte cadáveres. Cavar vinte covas debaixo do sol quente é muito cansativo”, comentou o sepultador.

Ele apontou também como problema a agressão por parte de alguns familiares dos mortos durante o sepultamento. “Já tomaram a pá das minhas mãos para não me deixar enterrar a pessoa”, contou. Reginaldo chegou a ser agredido fisicamente uma vez. “Quando coloquei o caixão no carrinho para levá-lo à cova, a mãe da moça que morreu me estapeou. Não reagi, mas me assustei na primeira mãozada”.

Segundo ele, três dias depois do incidente a mulher foi ao cemitério lhe pedir desculpas. “Tem muita gente que diz ‘eu quero ir junto’ e tenta se jogar na cova”, falou Aquino. Para Ernandes, é importante não reagir. “Nessas horas, mesmo que a família seja violenta, é preciso ter calma e ficar calado, porque aquele é o momento de dor da pessoa”.

O sofrimento das pessoas que perderam alguém querido já não comove tanto que lida com isso diariamente. “Eu sinto, mas se fosse chorar, ia chorar todos os dias”, justificou Casado.

No entanto, alguns casos emocionam os sepultadores. “Principalmente quando é ‘anjinho’ (bebê), que não tem pecado”, disse Mendes. Para Ernandes, o sepultamento mais emocionante foi o do ex-governador do Estado, Miguel Arraes. “Foi tocante, me emocionei muito”, contou, lembrando, também, que enterrou Tiago João, o menino-aranha que ganhou as páginas dos jornais no final da década de 1990 e morreu em 2005.

Todos recordam dos famosos que ajudaram a sepultar. “Enterrei Capiba e Nascimento do Passo”, falou Emanuel. “Também ajudei a enterrar Nascimento do Passo, além das sobrinhas de Arraes e de Marco Maciel”, listou Reginaldo. “Sepultei Enéas Freire (fundador do Galo da Madrugada) e Toinho Alves (músico do Quinteto Violado)”. No entanto, para eles, a fama não faz diferença nessa hora. “Morto é tudo igual, só que quando é alguém conhecido normalmente tem mais tumulto. Às vezes penso ‘tanto dinheiro na vida e foi enterrado junto de um pobrezinho’”, contou Silva.

De tanto lidar com a morte, os coveiros se acostumam a ela. “Quando eu era criança, morria de medo de cemitério. Hoje me acostumei”, contou Júlio. Ernandes também não teme o local de trabalho. “Aqui é seguro, morto não faz medo, vivo é que faz”, apontou. Ele diz não ter medo de morrer. “Uma hora, isso acontecerá com todos nós”. Paulo José afirma ser tranquilo quanto ao tema. “Eu vou embora na hora que Deus quiser que eu vá”.

Por Roberta Meirelles

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